É muito comum ouvirmos e falarmos que “ganhamos o salário”. 

É uma forma de desmerecer o trabalho, o esforço que dedicamos para cumprir as tarefas e os serviços aos quais fomos incubidas a realizar, que fazem parte do contrato firmado entre a pessoa empregada (a pessoa trabalhadora) e a pessoa empregadora (a patronal, as pessoas empresariais). O conceito de “ganhar” está associado a receber sem esforço, como uma prenda ou presente.

A questão é muito simples: o esforço, o trabalho realizado deixa de ser uma referência, assim como o contrato entre as partes envolvidas e o salário se torna um prêmio. O salário é uma forma de abrirmos mão da riqueza coletiva realizada mas não dividida entre as pessoas trabalhadoras envolvidas.

Cada acordo realizado em que nos submetemos a realizar trabalhos por um salário fixo, abrimos mão da riqueza que será obtida nesse processo. Como nós, pessoas oprimidas e exploradas, possuímos apenas a mão de obra, nos submetemos a essa contratação. 

Há algumas variações desse sistema, uma vez que as pessoas poderosas perceberam que ceder um por cento de seu roubo chamado de lucro para alguns setores de pessoas trabalhadoras, essas pessoas serão suas fiéis defensoras. E ainda pela forma de propaganda generalizada das relações de consumo do capitalismo, muita gente explorada e oprimida defende o sistema que as explora e oprime. 

E o “ganhar” salário, se torna nesse processo, mais uma ferramenta discursiva das forças poderosas, que parece estar fazendo bondades ao realizar essa “premiação” mensal nesse começo de século XXI. 

Há um retrocesso com as condições de trabalho, como estivessemos do fim da idade média e começo da revolução industrial, as pessoas trabalhadoras que conseguem ter um trabalho com salário mensal, se sentem “privilegiadas”, no meio ao aumento da miséria global. Enquanto as organizações patronais se mantêm presentes e influenciam as políticas  trabalhistas em todo o mundo, as organizações das pessoas trabalhadoras são destruídas ou mantidas sob controle. 

Isso implica em um discurso e práticas de submissão nos grupos das pessoas trabalhadoras, onde um processo de entendimento das péssimas condições de trabalho, de exploração e opressão das pessoas trabalhadoras e por consequência, propostas de mudanças profundas são necessárias não ocorrem.

Os discursos de controle precisam ser questionados e contestados em busca de nossa luta por rompimento com as estruturas de controle e opressão a que estamos submissas.

Na luta somos dignas e livres!

Salário não é premiação
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