Vamos entender o sistema de transporte coletivo em Campinas e porque é considerado pelo ranking indsat como de grau médio (526 pontos). Aliás, toda informação aqui foi coletada de sítios eletrônicos que qualquer pessoa tem acesso ainda. Então faça a sua pesquisa sobre o assunto e em pouco tempo terá muita informação e se surpreenderá sobre o que encontrar, isso, se esse realmente for a sua intenção, além de também produzir materiais que sejam relevantes para o entendimento desta questão. 

Campinas é uma cidade do interior paulista, fica a 100 km da capital, é um grande polo industrial, empresarial e tecnológico. 

Embora tenha mais de 1 139 047 habitantes, o sistema de mobilidade urbana é mediano para deprimente (ao menos é a sensação para muitas pessoas usuárias deste modal em Campinas). Com uma frota de 947.743 veículos (IBGE), quase um para habitante da cidade, transporta, diariamente, cerca de 204 mil usuários (pessoas) ou seja, mais ou menos 18% da população recorre ao uso de ônibus coletivo para exercer seu direito de ir e vir, por não terem outra forma de transporte, o que é paradoxal pela quantia de veículos existentes na cidade.

A cidade é um importante centro econômico da região, mas a infraestrutura da cidade não acompanhou todo o progresso que a região proporciona, principalmente nas áreas periféricas onde é mais necessário um transporte coletivo de qualidade. 

Não acompanhou seria negar que houve grandes investimentos no passado: em 1985 a Prefeitura Municipal de Campinas, em parceria com a CPFL – Companhia Paulista de Força e Luz, iniciou as obras do Corredor Trólebus, que ligaria o Centro da cidade ao Jardim Ouro Verde. A iniciativa visava a redução da emissão de poluentes e também otimizar o transporte coletivo, com veículos maiores e mais rápidos. Parte da obra foi entregue, mas no final de 1987, rompeu-se o contrato. Foram entregues os terminais do Ouro Verde e o Central, porém toda estrutura que seria destinada ao Trólebus nunca foi usada, sendo ocupada pelos velhos ônibus a diesel, muito poluidores.

Outro tentativa de modernização foi a implementação do modal veículo leve sobre trilhos (VLT) que usou o antigo leito ferroviário que cortava a cidade. Um projeto que realmente melhoraria a realidade da mobilidade na cidade foi iniciado em 1990 e finalizado em 1995, causando enorme prejuízo aos cofres públicos e um retrocesso que não foi recuperado até hoje. 

É preciso acrescentar que o sistema de transporte público em Campinas assim como em outras cidades pelo país, é alvo de suspeitas de irregularidades, de formação de cartel, desvio de verbas e até assassinatos. As mortes do prefeito de Campinas, o Toninho em 2001 e do prefeito de Santo André, Celso Daniel em 2002, estão sob forte indício de crime encomendado pelos grupos envolvidos com as questões de transportes nas respectivas cidades. Assassinatos de lideranças sindicais de motoristas, cobradores e transporte alternativo também acontecem com muita frequência nesse meio. Escrever sobre transporte público em Campinas, passa em escrever sobre o empresário português e posteriormente radicado no Brasil Belarmino de Ascenção Marta. Em 1961 contava com 14 ônibus com sua primeira viação, hoje é a felizarda proprietária de mais de 4.000 ônibus espalhados por 34 empresas vinculadas ao Grupo Belarmino, a sede é em Campinas, terra das andorinhas. 

Mais recente, no início de 2024, a Polícia Federal realiza um procedimento criminal preparatório cujo alvo é a licitação esvaziada em setembro de 2023. Essa licitação visa contratar operadores (por operadores entende-se Empresas de Transportes de Passageiros) para o novo sistema de transporte público em Campinas, que deveria funcionar já desde antes de 2020. Esta prática de esvaziamento é recorrente e leva a prefeitura a fazer contratações emergenciais, muito mais vantajosas para o empresariado de transporte. Deixemos isso por hora.

Voltemos para o trânsito em Campinas, que é intenso e gerido, ao nosso ver, de forma bem lamentável.

Uma gestão sofrível que começa pela Secretaria de Transportes, diretamente ligada ao prefeito da cidade.

Da Secretaria de Transportes, segue o Conselho Municipal de Trânsito e Transporte (CMTT), criado em 2003 e que é um órgão de controle social da gestão das políticas de trânsito e transporte do município com caráter consultivo, fiscalizador e deliberativo. Com 42 pessoas conselheiras, sendo 14 da administração municipal, 14 da população e 14 representantes das permissionárias. Todos esses cargos com suplência. Os conselhos são instâncias importantes de participação popular, ou como gostam de afirmar, de controle social, mas que de fato não ocorre, é apenas pró-forma e o controle é executado de forma blindada principalmente pelos principais players, aqui no caso, a EMDEC e TRANSURC, que abaixo discorreremos. 

O funcionamento operacional da secretaria de transportes foi entregue a uma sociedade de economia mista (EMDEC), sendo a prefeitura seu maior acionista com 51%. As demais acionistas, fica por conta da imaginação de cada uma. Entramos em contato com a EMDEC através do seus serviço de SAC e solicitando esta informação, que até agora não obtivemos.

Existe um forte argumento que os serviços públicos são mais eficientes quando entregue ao regime privado e geralmente são criadas autarquias, administrações indiretas, sociedades de economia mista entre outras formas. Nem sempre é isso que ocorre, nem sempre um serviço público melhora só por ter sido privatizado ou terceirizado. 

E aqui estamos diante de um desses casos.

A Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (EMDEC) foi criada em 1972, com atribuições diferentes das que possui atualmente. Só em 1993 é que assumiu de vez o papel operacional da secretaria de transportes. De lá para cá, o desafio da EMDEC é gerir, executar, desenvolver e estudar tudo que diga respeito à mobilidade urbana do município, de forma a atender as necessidades de locomoção de nossas pessoas munícipes. 

Se você é uma das milhares de pessoas motoristas da cidade, tem a nítida percepção que o sistema gerido por essa idônea empresa não está nada bem. Congestionamentos, engarrafamentos, acidentes e muitos deles fatais, estresses diários fazem parte da rotina de muitas pessoas de nossa cidade, muito agravado se moramos nas regiões periféricas. Se por outro lado, você está naquela situação de não ter outra forma de se locomover de um ponto da cidade para outro que não seja de ônibus, muita paciência, já que a tarifa é cara e o serviço fica a desejar, como ônibus com mais de 14 anos de uso!

A cidade passa por um processo de gentrificação, ou seja, é um processo de transformação das paisagens urbanas em determinados bairros da cidade que garante novas funções aos edifícios e espaços urbanos. No caso, foram criados bairros populares muito longe da região central, fazendo que a locomoção urbana das pessoas moradoras desses bairros sejam longas, morosas e perigosas. Os eixos viários das regiões mais populosas, noroeste e sudoeste não possuem capilaridade suficiente para o intenso trânsito que possuem. Capilaridade é a abrangência que um serviço tem dentro de uma área de atuação específica, o que não acontece nessas regiões.

O modal de transporte coletivo nessas regiões não proporciona de forma plena a qualidade necessária: conforto na viagem, cumprir horários, acessibilidade e segurança. Com isso, o sistema é expulsivo, e fica nele, quem realmente não tem outra forma de locomoção, levando a ter quase 1 veículo para cada pessoa na cidade, saturando as vias da cidade. 

Já sabemos que a EMDEC gerencia de forma ímpar a mobilidade urbana na cidade. Agora vamos apreciar outro agente importante do transporte público campineiro, a Associação das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Campinas (TRANSURC) que é uma entidade criada em 1987, que reúne as cinco concessionárias que operam o transporte na cidade, a VB Transportes e Turismo, Itajaí Transportes Coletivos, Onicamp Transporte Coletivo, Expresso Campibus e Coletivos Pádova. Tenha presente que essas concessionárias podem sair e outras podem entrar, conforme as conveniências empresariais desse cartel, ops, dessa associação.

Essas concessionárias ou permissionárias surgem da interação do Poder Público com a iniciativa privada a fim de trabalharem conjuntamente para a construção de obras ou prestação de serviços públicos que o Estado, por si só, não teria capacidade ou sentido de empreender e repetimos, nem sempre entregando o que prometem. 

Podemos até questionar que seria um cartel, para não cometermos essa gafe? Cartéis são acordos de cooperação entre empresas que buscam controlar um mercado, determinando os preços e limitando a concorrência… Os cartéis prejudicam as pessoas usuárias, pois aumentam os preços e restringem a oferta de produtos ou serviços, ou inviabilizam a aquisição deles. Nesse caso, o cartel está disfarçado e é autorizado por um processo de licitação, ou no caso, por contratos emergenciais até que esse processo de licitação ocorra (o último como escrevemos anteriormente, em setembro de 2023, não houve operadores interessados). Vem sendo adiado já alguns anos por procurações e recursos que atrasam o processo licitatório, e não se esqueça que um dos grandes players do mercado de transporte é de Campinas, possuindo mais de 34 empresas oficialmente. 

A dedicada TRANSURC recebeu (como a raposa recebeu a chave do galinheiro), da EMDEC, a chave da bilhetagem com intenção de que o sistema de venda de passes e o sistema de transporte fossem modernizados. Presta atenção, no ano de 2023, a Prefeitura de Campinas, através de um decreto, entregou um subsídio (concessão de dinheiro feita pelo governo municipal, com a finalidade de manter acessíveis os preços da bilhetagem). em torno de R$169,6 milhões. Essa dinheirama toda é para manter o preço de um serviço de transporte que é usado por apenas 18% das pessoas moradoras em Campinas, que como já destacamos bem, não conseguem usar outro modal de transporte. Na comentada licitação de 2023, a prefeitura quer pegar de volta a bilhetagem, como se o gigante devolvesse os ovos de ouro da galinha transportadora na boa vontade, que ingenuidade!

O sistema de bilhetagem foi modernizado, mas o serviço de transporte prestado por essas permissionárias não acompanhou tão bem esse processo modernizador. 

A tão desejada modernização da frota ocorre a passos lentos, bem devagar, ao contrário da agilidade que teria um serviço de mobilidade pública decente e que se importa com suas pessoas passageiras. Nesse sentido, a cidade tem passado nos últimos anos por uma série de obras para instalação de um sistema de BRT (Bus Rapid Transit, transporte rápido por ônibus). Escrevemos anteriormente que a cidade teve obras para implementação de Trólebus (1987) e do VLT (1990), as quais não frutificaram, causando ônus para os cofres públicos e transtornos para a população. 

Pois não é que pegaram as estruturas desses dois projetos para ser a base do BRT em Campinas. O BRT nesta altura já devia estar funcionando de forma plena, mas houve atrasos nas obras e elas ainda estão sendo finalizadas, para o desespero de quem fica nos pontos aguardando um transporte decente.

É inacreditável!

Isso foi uma pincelada, um tanto longa, sobre o sistema de transporte em Campinas. muita tinta e muito mais atitudes coletivas e organizadas pela população seriam muito bem vindas para mudar o rumo desse itinerário e seu ponto final, que por enquanto é os bolsos do empresariado envolvido, deixando nossa gente nas jardineiras enlatadas em óleo diesel e poluição. 

Agradecemos a paciência nessa leitura!

Transporte público em Campinas (uma vergonha!)
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