(Ou: Os trotskistas e a sua “maravilhosa” IV Internacional)

“Fomos de fumo embriagados

Paz entre nós, guerra aos senhores!

Façamos greve de Soldados!

Somos irmãos, trabalhadores!

Se a raça vil cheia de galas

Nos quer à força, canibais,

Logo verá que nossas balas

São para nossos generais.”

(Trecho da A Internacional, composta pelo

anarquista Eugene Pottier, 1871).

Entre tantas seitas dentro meio denominado “esquerda”, uma “vã vanguarda” sempre ressurge reivindicando se “a mais revolucionária e a mais verdadeira dentro dos grupos proletários e revolucionários”, uma velha atitude já conhecida na guerra civil russa (período de 1919 até mais ou menos 1922), atitude esta que é a classificação da heterogeneidade proletária e suas organizações como reacionárias, isto é, se não aceitar o catecismo da “vã vanguarda” da IV Internacional.

É notório também o golpe dado por este partido no que concerne ao desenvolvimento dos sovietes (conselhos locais de ampla participação popular) que tinham autonomia e eram estruturas descentralizadas em relação ao poder central. Estes sovietes foram modificados durante o período da guerra civil em seu molde, passando de um órgão deliberativo, executivo e autônomo em relação ao governo central ao seu inverso, isto é, uma mera extensão do governo central, sem ação nenhuma e tendo obrigatoriamente a presença “indispensável e indesejável” de uma pessoa representante do partido comunista em seu interior. Os sovietes que tinham muita força e foram a base da revolução, se tornam apenas replicadores dos desejos do novo grupo no poder, ou seja, a gangue de Lenin e seus comparsas.

Esse controle se deu graças às constantes intervenções das pessoas dirigentes da ditadura proletária russa, sendo a pessoa Trotski uma delas. Destacou-­se esta “notável” pela organização do exército vermelho regado à muita vodca e confiscos arbitrários, mas tudo para o bem da revolução em desenvolvimento, é claro, “camarada”!

Impõe-se a todas as pessoas contrárias ao governo central de Lênin&Cia (ou seria melhor a “tcheca”, a polícia do partido que viraria a KGB?), a força de seu argumento militar e repressor (ver história sobre a Makhnovtchina, sobre o Nabat ou sobre o Kronstadt).

A revolução russa abriu ao povo russo explorado e oprimido, infinitas possibilidades revolucionárias, fato que a “vã vanguarda” não compreendeu e barrou o desenvolvimento da revolução. Em menos de três anos, a “vã vanguarda” se tornou uma retaguarda reacionária e assassina das pessoas proletárias, as mesmas que haviam participado da revolução sobre sua orientação. Isso ilustra um fato: os períodos de transição (conhecido pela alcunha de “Ditadura do proletariado”) são um grande logro e um freio às vontades revolucionárias mais urgentes: 

-a expropriação e abolição de toda propriedade privada e de todo direito à herança;

-a autogestão proletária dos meios de produção de uma forma imediata;

-o fim de todos os meios de governos fixos e burocráticos (totalitários);

-o fim de todas as explorações e opressões a todos os seres vivos, nas suas diversas formas.

O mais interessante é que se tivéssemos a paciência necessária para lermos os materiais de Trotski e da IV Internacional, veremos que tudo que for contrário às suas teses, se torna reformista, paliativo ou engodo. Assim, por uma obra digna de um alquimista dialético, coloca se o joio, o trigo, a farinha de rosca e tudo o mais sobre a mesma peja, isto é, reacionários (leia o material Programa de Transição pag. 44, confeccionado pelo sr. Trotski); que existe uma tarefa “inexorável” da vanguarda, a saber, levar às “trevas da ignorância proletária”, “uma luz e uma via que se diz única” ou em suas palavras:

“A tarefa das seções da IV Internacional é ajudar a vanguarda proletária a compreender o caráter geral e o ritmo de nossa época e fecundar a tempo a luta de massas por intermédio de palavras ­de ­ordem cada vez mais resolutas e por medidas organizacionais de combate.” (Programa de Transição, pag. 53)

Leia com bastante atenção e perceba que a “vã vanguarda” é mais vanguarda ainda, já que orientará a vanguarda proletária. É muita vanguarda para pouco texto!

O mais interessante é que se deixarmos nos ofuscar por suas palavras sedutoras, estaremos diante de um contexto revolucionário sem precedentes (o que em muito se deve ao furto de idéias anarquistas que foram reformuladas). 

Muito bem! 

Abaixando um pouco as luzes dos holofotes “troscos”, perceberemos um pequeno detalhe em que a história será de grande auxílio. Como apresentado no início deste texto, o exército vermelho foi estruturado sob sua supervisão. Foi usado para conter as forças reacionárias em primeira instância (exércitos brancos de Denikin, Koltchak e Wrangel).

Esse mesmo exército no sentido militar da palavra (que se associa com hierarquia e autoritarismo), sempre sobre sua liderança, uma vez vencida a ameaça reacionária, saiu reprimindo tudo que contrariasse o governo central, e assim sovietes, fábricas, milícias autogestionadas e tudo que não estivesse de acordo com os mandamentos centrais, foram fechados ou reprimidos. Posteriormente na Espanha as pessoas seguidoras de Trotski, junto com os grupos anarquistas e anarco-sindicalistas, sentiriam na pele a repressão autoritária da esquerda quinta coluna stalinista. 

E o pior de tudo isso, é que as condições necessárias de ascese ao poder pelo “companheiro Stálin”, foi garantida por Trotski ao atrelar os sindicatos, as pessoas trabalhadoras e milícias descentralizadas à “ditadura soviética” e seu “sagrado estado”, reprimindo de forma geral a todos (reacionários ou não), apostando que seria a sucessão natural de Lênin ao poder, o qual foi rasteirado por Stalin, que articulou dentro dos quadros do partido comunista russo.

Este esboço textual é apenas um singelo alerta à “suposta rebeldia trotskista e sua IV Internacional”. 

Obs: Para as pessoas mais céticas procurem nos livros de história e de análise a respeito, o material necessário para suas próprias conclusões, onde posso sugerir: A “revolução” contra a revolução de Nestor Makhno; Les anarchistes dans la révolution russe de Alexandre Skirda; Kropotkin, textos escolhidos seleção de Maurício Tragtenberg; Los anarquistas (tomo 2) seleção de Irving Luis Horowitz etc.

Os “troscos” e sua Internacional tosca
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