Origens e Desenvolvimento do Expressões Anarquistas

O evento foi idealizado pelos grupos Grupo Independente de Estudos Políticos e Sociais (GIEPS) e Coletivo Revolucionário de Ação Popular (CRAP) em Araraquara em 2002, mas não era anarquista, chamava-se Encontro da Juventude Rebelde, que pretendia reunir várias experiências de luta social e política de matizes da esquerda, seja partidária, seja autônoma e apresentá-las a sociedade no interior de São Paulo, focando no público jovem. Em um mesmo ambiente havia matizes comunistas, socialistas e anarquistas.

Ocorreram 3 edições, todas realizadas em Araraquara, espaços públicos reservados e divulgados em jornais locais. A presença de um público plural foi marcante, assim como as palestras apresentadas.

Em 2005, após conversas sobre o evento e uma necessidade de um enfoque mais libertário, que promovesse a reflexão critica e levasse a uma troca de vivências anarquistas. A anarquia foi identificada como a proposta que se mantinha dentro de uma coerência na luta pela emancipação social, econômica e politica da humanidade, que fazia sentido as pessoas envolvidas com o projeto, após terem se conectado durante três anos com uma diversidade de propostas.

Tudo isso levado em conta surge o conceito de Expressões Anarquistas na intenção de trazer as diversas manifestações e ações que ocorrem dentro da grande bandeira negra da anarquia, para o interior de São Paulo.

Havia um entendimento de que enquanto a capital havia diversos grupos e muitas atividades anarquistas, no interior paulista a situação era diferente: poucos grupos e poucas atividades e esse seria um dos objetivos do realização do Expressões Anarquistas, fazer a anarquia florescer intensamente no interior paulista, uma floração com frutos mais duradouros. Um fato, que se mantém até agora, 2020, vários grupos que se dizem anarquistas na capital, pouco sabem sobre o que ocorre no interior paulista. O que ocorre com frequência sãos as pessoas anarcologas (pessoas que estudam a anarquia, não necessariamente envolvidas com anarquia ou que sejam de fato anarquistas) desenvolverem alguns projetos para abandoná-los em seguida porque não possuem um compromisso sério com a anarquia e sim em tirar proveito do meio, sem promover ações de mudanças significativas e duradouras. Há muitas dessas pessoas aventureiras que se reivindicam anarquistas, mas não passam de hipsters rasos.

IV Expressões Anarquistas – variações do mesmo tema (2005) em Araraquara, foi um marco importante, porque não só tivemos as tradicionais conversas libertárias onde uma pessoa transmite uma experiência sobre um determinado assunto estando os presentes livres em intervir em qualquer momento, como ocorreu também atividade aberta na forma de uma manifestação de rua, com faixas, bandeiras e carro de som, onde denunciávamos a farsa da política burguesa que naquele momento estava marcado pelos escândalos do PT e seus aliados no chamado “Mensalão”, mostrando que a esquerda institucionalizada, é uma serva fiel do capital e inimiga das pessoas exploradas e oprimidas (havia cartazes com os escritos “Xô CorruPTos!”). Foi redigido um documento público, a Carta de Araraquara nesse evento:

Nós, ANARQUISTAS reunidos em Araraquara (SP) nos dias 7, 8 e 9 de outubro de 2005, discordamos que exista uma crise política conjuntural instaurada no Brasil. Defendendo nossos princípios, confirmamos o que sempre denunciamos:

1)que não é possível no “neo” liberalismo resolver os problemas de concentração de renda, situação disseminadora da miséria;

2)que as eleições têm como objetivo alienar e afastar o povo das reais discussões sociais, políticas e econômicas;

3)que a denominada crise política nada mais é senão a luta dos partidos de esquerda e de direita (situação e oposição), não afetando as relações de dominação do capitalismo;

4)que a história tem mostrado não ser possível criar um governo dos trabalhadores através de partidos, que se auto-proclamam seus representantes. O atual governo, como qualquer outro, continua oprimindo e tirando direitos trabalhistas conquistados nesses últimos 100 anos;

Apontamos como solução:

·A destruição do Estado – pois este não atende aos interesses do povo – e a superação das instituições que o mantém;

·A organização dos movimentos sociais (populares e sindicais) através da AUTOGESTÃO;

·A AÇÃO DIRETA como prática de transformação social;

·O resgate dos princípios ético-anarquistas como instrumento de luta para superação do Capital.

Assinam:

Fenikso Nigra – Campinas

Balaio de Pólvora

COLETIVO AÇÃO POPULAR

REGIONAL ATIVISTA DE CURITIBA

Isso trouxe uma nova perspectiva para o evento, indo do convencional: palestras e debates para a propaganda pela ação. Os assuntos abordados foram Voto Nulo, Recordando o I Congresso Operário Brasileiro e a Revolução Espanhola, Movimento Anarquista atual, Anarquistas na Revolução Russa.

O V Expressões Anarquistas – educação e autogestão (2006) foi em Santo André, inaugurando outra ideia, da realização do evento em outras cidades para que as vivências anarquistas sejam trocadas e espalhadas.

A Casa Lagartixa Preta Malagueña Salerosa (espaço mantido pelo Ativismo ABC) recebeu o evento, que contou com materiais de diversos grupos e falas sobre Pedagogia Libertária, Vegetarianismo, vegan e freeganismo, Autogestão, Esperanto.

VI Expressões Anarquistas – autogestão e socialismo libertário (2007) foi em Campinas e contou muita gente e grupos que contribuíram muito para uma revitalização do anarquismo em Campinas, com o surgimento posterior de um grupo antifascista, a Coordenação Antifascista de Campinas, para o enfrentamento do problema real da violência de grupos e indivíduos totalitários de direita e esquerda. As conversas foram sobre os 90 anos da Greve de 1917 e o Anarcossindicalismo, Softs Livres, Pagos e Piratas, Educação Libertária, Sobre o conceito da dádiva, Markenting e Propaganda Anarquista, Experiências na Chechênia. Houve alimentação coletiva no local, o que estreitou muitas amizades.

Em 2008, a organização coletiva do Expressões teve contratempos que fizeram com que o VII Expressões Anarquistas ocorresse em Dezembro, em apenas um dia, em Campinas. Tendo como tema “conheça, organiza e luta”, trouxe a homenagem a Edgar Rodrigues que dedicou sua vida pela memória operária.

Nele foi lançado o Arquivo Bem Estar e Liberdade, de iniciativa do Sindivários Campinas(Sindicato de Oficios Vários vinculado a FOSP e COB/AIT), que contava com materiais digitalizados e documentos guardados importantes para a memória de luta de nosso movimento. Também conversamos sobre o Movimento Libertário Brasileiro e suas características. Tivemos a presença de companheiro da CNT espanhola que contribui com sua vivência anarcossindical.

O VIII Expressões Anarquistas – promessa de rebeldia (2009) foi realizado em Piracicaba, através de militantes que depois formariam o Coletivo Anarquista de Piracicaba e Região (CAPRE).

Reuniu muita gente e houve distribuição de materiais, uma amostra de todos os livros de Edgar Rodrigues e a entrega em pré- lançamento de um livro sobre o Edgar Rodrigues da professora doutora Anna Gicelle, a noite ocorreu um sarau regado a violão e muitas poesias. O rango vegano foi realizado de forma coletiva e foi uma experiência empolgante. Nesse Expressões tivemos oficinas sobre plantas comestíveis, bioenergética corporal. As conversas foram sobre o Feminismo, Anarcossindicalismo, Movimento Libertário Brasileiro.

Em 2010, foi o IX Expressões Anarquistas – em memória de Ferrer e da escola moderna. Foi em São Paulo, após uma troca de ideias com outro evento anarquista tradicional na capital, a Jornada Libertária de Protesto (JLP), houve a troca de lugares, ficando que ocorresse JLP em Piracicaba e o IX Expressões Anarquistas em São Paulo em Santo Amaro (sede da Corrente Libertadora), Com a presença de bastante gente, companheirxs do Rio Grande do Sul (FORGS-COB-AIT) e da Africa do Sul (Zabalaza Anarchist Communist Front).

Nele, com a mesma dinâmica dos Expressões anteriores, conversamos, debatemos, dialogamos sobre a Educação Moderna de Ferrer, Esperanto, Anarcossindicalismo, Sobre a confecção de Bombas de Semente inspirada em Masanobu Fukuoka (técnica para plantio em terrenos abandonados ou áreas inacessíveis, chamando atenção a causa ecológica e reestruturação dos meios de produção em busca de equilíbrio com a natureza). Como aconteceu segundo turno, também discutimos sobre a importância do Voto Nulo e de Não Votar, construindo nossa organização sem partidos, sem políticos, sem patrões, sem Estado. Foi parcialmente gravado, garantindo o arquivo digital desse evento para a memória de nosso movimento.

Foi realizado novamente em São Paulo, no Centro de Cultura Social (CCS-SP), nos dias 15 e 16 de Outubro 2011, o X Expressões Anarquistas. Choveu muito, mas não impediu de termos mais uma realização bem sucedida do evento. Em paralelo tivemos o inicio das Acampadas 15 de Outubro (baseada nas manifestações da Primavera Árabe, das Acampadas na Espanha e do Occupy Wall Street), da qual parte do participantes do Expressões também prestigiaram. O X Expressões foi inteiramente gravado e tivemos acalorados debates sobre Anarquismo e Direito. Outros temas abordados foram Linux, Esperanto e Anarquia; Discussão sobre Gênero; Anarcossindicalismo. Houve exibição do filme “Agora” baseado no incêndio da Biblioteca de Alexandria pelos cristãos e da filosofa Hepatia que assassinada também pelos cristãos.

Em 2012, foi realizado em Campinas, na Moradia Estudantil, o XI Expressões Anarquistas. Nele houve a participação de mais de 40 pessoas, e as conversas libertárias abordaram diversos assuntos como o impacto dos mega-eventos nas cidades (copa e olimpíadas), o feminismo e anarquismo, educação e anarquismo, o veganismo. Além disso, ocorreu uma confraternização entre os participantes, e a alimentação vegetariana feita de forma coletiva.

Nos dias 12 e 13 de Outubro 2013, o XII Expressões Anarquistas, foi em Ribeirão Preto/SP, no Memorial da Classe Operária, nº 59, organizado pela iniciativa do grupo Viver Utopia.

Com a exposição, fala, expressão de todas e com muita gente, foi intenso para todas as pessoas presentes. Lá houve intensas conversas e muita interação entre as pessoas, o rango de forma coletiva vegetariano é sempre uma vivência prática da possibilidade de vida autogestionária.

Em Araraquara, nos dias 04 e 05 de Outubro de 2014, aconteceu o XIII Expressões Anarquistas. Nos unimos e trocamos idéias sobre o anarquismo e suas vária formas de ação, com a participação principalmente de pessoas da região. Realizado no Centro Cultural Professor Waldemar Saffioti, da Unesp houve espaço para as crianças, que realizaram uma galeria de arte que reuniu artes até das pessoas adultas presentes. Foi um retorno as origens do Expressões Anarquistas, a cidade de Araraquara. Foi feita uma seção de cinema com o filme Quebracho, que retrata a péssima vida das pessoas trabalhadoras na Argentina na extração do tanino do Quebracho, a organização sindical e sua transformação durante o tempo.

2015, o XIV Expressões Anarquistas foi em Campinas novamente.

Um evento especial, porque a união anarquista Fenikso Nigra completou 10 anos de existência, na região de Campinas. Apresentamos a trajetória de nossa união, cheia de altos e baixos. A anarquia no Brasil, que é onde estamos, não conta com um histórico de continuidade muito grande, e a maioria das associações, grupos e coletivos anarquistas não possuíam mais do que 20 anos de existência. É muito importante cultivarmos, através de uma prática coerente com a proposta anarquista de emancipação geral, ainda revolucionária e muito atual e manter a memória de luta viva, porque ela é uma referência importante.

Em 2016, o XV Expressões Anarquistas foi realizado em Piracicaba, em um espaço Raul Seixas, onde contamos com a presença não só de pessoas da região de São Paulo, mas também de outras regiões. Contamos com um voluntariado engajado, mantendo o espaço organizado, as comidas, todas veganas preparadas de forma coletiva.

A noite realizamos um sarau aberto, regado a animação e ao calor envolvente que a ocasião criou. Foi um Expressões muito inspirador!

O XVI Expressões Anarquistas ocorrido em 2017, em Assis, cidade que fica mais de 434 km da capital. Isso é algo importante e um dos principais objetivos do Expressões Anarquistas é a cada ano estendê-lo de forma a proporcionar práticas e conversas sobre a anarquia pelo interior de nossa região e criar condições para o conhecimento e organização de associações, uniões, coletivos, grupos ou a forma que as pessoas entenderem mais interessante para construção anarquista. Mantendo a proposta de ação e convivência, o evento celebrou os 100 anos da greve geral de 1917, ainda a maior greve até hoje no país.

Mais um vez, em Campinas, o XVII Expressões Anarquistas foi realizado em Campinas, na Associação dos Moradores do Jardim Campos Eliseos, com roda de jongo Preta Bandera e conversas abertas sobre ecologia, visita a horta comunitária do Tancredão.

O Espaço Raul Seixas em Piracicaba recebeu a XVIII Expressões Anarquistas, edição de 2019. Mantendo a conexão do interior, com um publico menor, com conversas sobre educação e movimento anarquista.

Agora em 2020, o XIX Expressões Anarquistas, terá sua edição digital, que ocorrerá no dia 11 de outubro, mais informações através do e-mail: [email protected]. Prestigie!!!

Esse foi um resumo do evento que a cada ano contou com militantes de diversos lugares, não só de São Paulo, mas de todo o Brasil e até de fora.

Em todos esses anos, sempre lembramos que é muito importante que nos organizemos em prol do desenvolvimento da anarquia, através das mais variadas práticas, mas todas com os mesmos princípios anarquistas e pela construção de uma sociedade sem oprimidas, sem opressoras, sem exploradas, sem exploradoras. Na luta somos dignas e livres, abraços livres a todas!

Pela Uniao Anarquista Fenikso Nigra – desde 2005 na anarquia sempre!

Expressões Anarquistas – uma narrativa breve