A anarquia ocorrerá em cada pessoa ou num grupo delas.
Como as aspirações nesses dois casos são diferentes, existe a possibilidade de haver conflitos de interesses: o grupo, o coletivo, a associação tende a assimilar cada uma das pessoas; simultaneamente cada pessoa também procura imprimir ao coletivo as suas marcas, suas aspirações. O conjunto de tudo isso, é a sociedade em permanente mutação, transformação, hora em tensão, hora em harmonia.
A transformação perpétua das pessoas e coletivos ocorre repetidamente, imutável em sua dinâmica transformadora. Isso gera insegurança e desequilíbrio em ambas as partes. Tanto as pessoas ficam incomodadas por não conseguirem sair desse continuo começo, como a coletividade demanda muita energia para assegurar um desenvolvimento, um progresso, equilíbrio artificial que não existe.
É possível entender isso?
O simples processo de nascimento é um começo para cada pessoa, consequentemente o é também para o coletivo, que reafirmará todo o processo que o mantém coerente as pessoas novatas. Não só é um começo, mas um novo começo, um começo diferente, uma vez que as condições de cada lado está diferente.
Por que as condições de cada lado está diferente?
A diferença que ocorre na ilusão de progresso, de desenvolvimento que o coletivo procura e tenta acumular. Assim, embora as pessoas em todas as épocas nasçam iguais, as ilusões de progresso impregnadas no coletivo são transferidas as pessoas, imprimindo uma ilusão de progresso, e assim a sensação de um desenvolvimento do coletivo humano é sentida e até a falta dele, a ponto sentirmos até a sensação de retrocesso.
Mas logo é ameaçada pela realidade, ou ao menos por sua face rápida que se transformará em uma velocidade ainda inimaginável. É muito rápido para que nossa lógica possa compreender, mas se manifesta em tudo.
Verificaremos que ao captar uma imagem da sociedade, temos um quadro de uma diversidade impressionante, temos tudo e todos em um momento apenas. Todos os aspectos do coletivo e da pessoa está ali, em suas diversas manifestações e intendimentos. Dizer que uma forma, um paradigma é mais abrangente do que outros, ou mais preponderante, ou mais lógico, é um totalitarismo oportuno, muito destrutivo paras as infinitas possibilidades humanas.
Pense ainda que a pessoa que capta esta imagem é diferente do que está lendo, que tem uma outra imagem; pense em uma terceira pessoa e assim por diante. Cada qual é uma, e ao mesmo tempo, pelo choque com o coletivo, se torna parte discriminada na retroalimentação do próprio coletivo, mais uma peça da ilusão de tradição que a humanidade acredita precisar.
Sobre tudo isso, tanto o coletivo e as pessoas mesclam-se variavelmente e nas mais diversas formas.
Tudo isso se manifesta simultaneamente.
O que seria maravilhoso, mas há um grande desafio aqui.
Como tudo isso não é lógico, mensurável, progressivo, tanto as pessoas como o coletivo, aprisionados a sua ilusão de progresso, desenvolvimento ou seja lá como queiram chamar, causam exploração e opressão, justamente por prender-se uma ilusão que não existe, de progresso.
Ou melhor, a ilusão de progresso ocorre sobre a miséria e regresso, o que anula este suposto progresso.
Isso simplesmente é voltar ao início. Ilustremos com a lembrança do trabalho de Sísifo. Toda essa ilusão é o trabalho de rolar a pedra, que é o nosso progresso montanha acima, para constatarmos, perplexos, que ela rola novamente para baixo assim que a largamos, esmagando milhões em sua rota.
Anarquicamente, pretendemos não resolver os problemas das pessoas e do coletivo, mas assegurar que as manifestações de liberdade e justiça não estejam limitadas as esferas ilusórias atuais de um progresso inexistente. Perguntaríamos, para que rolar a pedra se ela esmagará milhões? Nos recusamos a compactuar a uma ilusão tão mortal. E nem, queremos com essa consciência ilógica, sugerir um progresso ou um novo paradigma. Não somos pessoas ambiciosas, apenas lutamos para que a liberdade seja comum a todas sem exceções e contemplarmos o impossível formado.
Se isso é subir a montanha sem a pedra, mantendo-a lá embaixo; ou não subi-la, contemplando sua altura; ou subir com a pedra, mas fixando-a lá encima; ou que muitos optem em ser esmagadas …
Bem, lutemos por isso, por que não?