Em 2003, escrevemos que os índices de mortes pela polícia estavam crescendo em um ritmo acelerado. Passado 18 anos, vemos como se acentuou essa violência.

As duas principais organizações criminosas que atuam fora e dentro das prisões: são elas a PM e o PCC. Ambas contam com um efetivo de milhares de membros e possuem acesso a armamentos que um cidadão comum dificilmente obteria. O que a gestão federal que assumiu em 2019 quer mudar, colocando armamento pesado nas mãos das pessoas “cidadãs de bens”.

Entendemos que enquanto a inversão e desigualdade econômica se mantiver, sempre teremos essas situações de conflito. Levando em conta que a invasão dessas terras foi uma grande ação criminosa do tempo das navegações luso/espanholas, não existe uma novidade para quem entende que motivações gananciosas das pessoas tem castigado a humanidade por milênios, muitas vezes sob as motivações mais esdruxulas como religião, pátria e honra que escondem o verdeiro motivo que é o ganho fácil sobre as custas de qualquer uma, ou seja, a motivação de uma pessoa bandida é igual a de uma pessoa empresária e ambas se protegem e atacam com a violência que puderem.

A bestialidade de tempos remotos chegam a nós e se modernizam, como o caso das forças armadas. Foram criadas para a manutenção de uma ordem de poder, contam com um aparato de repressão para lhe assegurar isso e que ficam cada vez mais sofisticado com o passar do tempo. Esqueçam as atribuições formais e legais que possam justificá-los, no fundo são elementos de manutenção do sistema e cabem a eles manter o funcionamento dessa estrutura. E por que consideramos a PM uma organização criminosa que atua dentro e fora da prisões?

Simplesmente porque é constituído como corporação de uma outra estrutura criminosa chamada Estado, que é uma usurpação das forças da sociedade por grupos de pessoas, delimitando aquilo que seria de todas e para todas, numa estrutura fechada e demarcada que chamam de Estado.

Os Estados são construções humanas baseadas na conquista, seja econômica, seja militar. É uma agressão e uma forma de oprimir e explorar uma grande parte da humanidade por um grupo menor de pessoas, cada qual formando suas quadrilhas através de seus “Estados”. Como uma estrutura desigual que cria enormes problemas sociais, é evidente a necessidade de uma organização armada que reprima qualquer forma de questionamento ou de ações que busquem o rompimento com essa imposição. Vemos a versatilidade da PM na repressão de todos os tipos de manifestações sociais, muitas sendo consideradas criminosas como as questões indígenas, das pessoas afrodescendentes, de gêneros, de cultura, das terras rurais e urbanas, sindicais e por ai vai.

Não precisamos ilustrar com milhares de exemplos, quantas vezes as forças policias e afins bateram, espancaram em diversas formas de manifestações e executaram tantas pessoas militantes dos mais variados movimentos. Sempre com a justificativa de manter a “ordem” e a “normalidade” de uma “legalidade” conveniente para os grupos poderosos, dominantes, pessoas exploradoras e opressoras.

Por outro lado, como os conceitos morais dessa estrutura criminosa são disseminados como valores “certos”, “éticos” e “morais” para a sociedade e essa sendo reduzida a uma serva submissa ao Estado, absorve tais noções, constitui gerações e gerações de seres corruptíveis, gananciosas, invejosas e que de alguma forma querem ter a ascensão social tão pregada e difundida pelo sistema. Querem serem pessoas ricas, famosas, em resumos, poderosas, e o crime concede esse sucesso rápido, assim como o futebol e o mundo da moda (uma prostituição disfarçada) o são, mas que pouca acrescentam no desenvolvimento e qualidade de nossa sociedade, nada acrescentam também na condição das pessoas oprimidas e exploradas.

Os quadros que formam o PCC são os mesmos que formam os quadros da PM: uma grupo com grande vulnerabilidade, condicionados na ilusão exposta acima e que querem de algum jeito, se manterem e proporcionar a funcionalidade das ações criminosas de um lado ou do outro, lembrando uma brincadeira de criança, onde se formavam dois grupos, de policiais/soldadas e outro das pessoas ladras, onde um buscava a prisão do outro. Assim que um grupo vencia, os papeis eram trocados e isso se repetia várias vezes até todos as integrantes se cansarem e irem confraternizar juntos a farra que fizeram.

O que acontece hoje é algo muito semelhante, embora o Estado omita parte do que ocorre, o que vemos não é uma guerra contra a sociedade, mas entre duas organizações criminosas, que dependem uma da outra para se manterem. Não estranhemos pois que ambas atuem de forma semelhante e busquem colocar medo na população com a intenção de legitimar a violência que exercem.

“Policia e Ladrão”, uma “Brincadeira” de adultos
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