Os protestos verificados no Brasil a partir de junho de 2013 além de questionarem a total ineficácia do Estado brasileiro em se tratando da gestão da coisa pública expuseram de vez o integral despreparo em lidar com manifestações massivas de rua por parte das chamadas autoridades constituídas. Obviamente não é de hoje que denunciamos que os Movimentos Sociais seguem sendo tratados como caso de polícia e criminalizados, como já o faziam outrora os companheiros libertários na República Velha.

Covardemente democratas, republicanos, socialdemocratas, amarelos, bolchevistas, intelectuais, vinham de há muito fazendo coro, de que o Brasil sobremodo a partir de 1988 teria uma Constituição cidadã, a qual em tese nos permitia viver sob a égide privilegiada da lei. Os excluídos sociais. Trabalhadores, donas de casa, empregadas domésticas, servidores públicos, desempregados, sabem que isso tudo não passa de uma falácia. Os assassinatos e ameaças no campo e na cidade, incluso alguns dirigentes sindicais ligados a estrutura oficial, são regra e não exceção. Jornalistas, paleoameríndios, moradores de rua, sem-terra, profissionais do sexo e outros, pura e simplesmente são torturados, espancados, assassinados e nada de objetivo acontece de parte da autoridade constituída incumbida de investigar, prender e punir os responsáveis. http://www.cnbb.org.br/site/comissoes-episcopais/caridade-justica-e-paz/11834-relatorio-da-cpt-mostra-que-assassinatos-no-campo-crescem-24-em-um-ano

Outro grave indicativo são os números crescentes de trabalhadores do meio rural e urbano que são escravizados, sem que o Ministério do Trabalho tenha elementos suficientes para fiscalizar. Não raro observasse o Judiciário pedindo a retirada do nome das empresas, para que estas deixem de constar da chama ficha suja ou escravocrata. (http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2013/05/19/internas_economia,390463/falta-de-auditores-fiscais-compromete-acao-do-ministerio-no-combate-ao-trabalho-escravo.shtml)
Os moradores de vilas, loteamentos, ocupações, quilombolas, povos da floresta, aldeias indígenas, ribeirinhos, despejados da copa e das barragens estão sob constante ameaça de agressão e despejo, pasmem fruto isso, da ação monocrática do Estado, cujo fim precípuo é (seria) justamente o inverso, ou seja, protegê-las e não agredi-las dado sua objetiva hipossuficiência. Um simples protesto de moradores de uma rua, beco, comunidade carente, pedindo por água, luz, posto de saúde, esgoto, recolhimento do lixo, presença do carteiro, rápida e historicamente mobiliza todo um aparato repressivo, com vistas a intimidar toda a comunidade, procurando com isso também demonstrar aos “desavisados” que reivindicar no Brasil é delituoso e sempre sinônimo de baderna e vandalismo.

Obvio que o Estado a seu serviço não tem somente o aparato repressivo e truculento, mas conta com a imprensa, que fruto de concessões públicas, nesse particular rádio e TV esses carentes, ainda, das verbas destinadas a chamada publicidade institucional, mais ao dispor dos governantes de plantão ficam. Nos primeiros protestos verificados em São Paulo, houve nesse particular a imediata agregação dessas duas forças reacionárias, de um lado o aparato policial, com suas balas de borracha, cassetetes, bombas de efeito moral, cães, cavalaria, helicópteros, inteligência filmando e fotografando os manifestantes, e na esteira os MCS com seus surrados discursos nazistas, usando os tradicionais chavões de “um pequeno grupo de agitadores” e eternos insatisfeitos faz baderna; o governo está somente repassando a inflação na tarifa do ônibus e do metrô; o Conselho de Mobilidade apontou; a Câmara de Vereadores aprovou o reajuste; há necessidade dos aumentos para manutenção e renovação da frota; a planilha apontou esses custos; os trabalhadores rodoviários tiveram dissídio e vários outros clichês.

Há aqui necessidade imperiosa de resgatar que a luta do povo brasileiro contra a opressão, as ditaduras, o obscurantismo, contra o fascismo, por direitos sociais e coletivos, moradia, saúde e educação não foi descoberta em junho de 2013, mas é cumulativa, cotidiana, passa felizmente por fora das ações de frenagem dos pelegos, burocratas, partidários, chapas-brancas cooptados pela Estratocracia a que tudo abençoam e dizem amém em defesa de seus cargos quer no governo, quer nas entidades atreladas ao Estado, tipo os Sindicatos oficias que paradoxalmente se beneficiam da legislação fascista em vigor há mais de 60 anos.

O represamento de milhares de demandas, individuais e coletivas ao longo dos últimos anos, frustradas também pelas promessas de campanha dos atuais dirigentes de Estado, conjugadas com a considerável presença de micro ações em defesa da dignidade e da cidadania, tais como a luta contra a construção de Belo Monstro (A Construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, tem trazido à tona as várias contradições dessa mega construção. No canteiro de obras – plano interno – os operários vivem em constante revolta, dado as precárias condições de trabalho e em luta constante por aumentos salariais, por outro lado índios, ribeirinhos, ONGs, lutam incansavelmente pelo fim desse hediondo crime ambiental. E a esses dois segmentos de luta se conjugam importantes segmentos da opinião pública nacional e internacional tornando o canteiro e seu contorno um caldeirão fervilhante de inconformismo e revolta permanentes.

A resistência tenaz dos Povos Paleoameríndios, as constantes ocupações dos sem-teto e sem-terra, a incansável denúncia das ações escravagistas, a insatisfação latente no seio do serviço público, no particular das Professoras Públicas, tendo por norte o vergonhoso desrespeito a lei do piso nacional contraditoriamente fruto de norma oriunda do Estado monocrático, serviram de alicerce para a tomada das ruas, praças, pontes, avenidas, portos, estádios, parlamentos, etc. de centenas de cidades nos meses de junho e julho de 2013, com massivos e entusiásticos, por não dizer surpreendentes protestos exigindo padrão de vida modelo FIFA, para todos.
No tocante a questão do aumento na tarifa dos transportes coletivos – ônibus, metrô, trens, barcas, etc. – possível catalisador de todos os movimentos latentes necessário lembrarmos que se trata de luta antiga, pretérita, portanto a 2013 e que no mínimo em 2013 já vinha suscitando discussões públicas e protestos desde o mês de fevereiro do corrente ano.

Os Movimentos pelo “Passe livre” têm mais de seis anos de existência e está presente em dezenas de cidades. A insensatez governamental em bancar a realização da Copa da FIFA no Brasil em 2014 e dos jogos olímpicos em 2016, com os investimentos – publicamente supostos financiamentos – megalomaníacos em inúteis e perdulários estádios de futebol, legitimou o clamor popular no ir às ruas. Todas as razões do povo se sublimam na máxima de que se tem para gastar com Copa, redundantemente tem para investir em saúde, educação, mobilidade urbana, bem como em todas as outras demandas extensivas. Logo os plantonistas apoiados na mídia criam a suposta legitimação dos movimentos horizontais (toleram com Policiais Militares em todos os lugares de protestos) conquanto sem violência, teimando em inventar covardemente factoides de supostas depredações. Atrevemos-nos aqui a perguntar quantos ônibus foram pichados e danificados, se comparado com os incendiados, com perda total pelas facções criminosas em 2012 em todo o território brasileiro. Infelizmente a isso o governo silencia e a imprensa subalterna se cala.

Nesse compito no Rio Grande do Sul fantasiosamente as autoridades policiais, incluso o Senhor Governador do Estado já nas primeiras passeatas passa a enxergar nos Anarquistas toda a responsabilidade pelo acirramento em dados momentos, quando na verdade o revide foi sempre uma resposta espontânea da população as ações repressivas e desnecessárias da Policia Militar do RS. (http://www.inga.org.br/?p=3635 & http://levantedereacaopopular.blogspot.com.br/2013/06/eles-sao-anarquistas-e-bandeira-e.html)

No mesmo instante observamos, nas grandes cidades, milhares de cidadãos, que a única coisa que “fazem de mal” é pagar religiosamente seus impostos, tomando as ruas. Qual a reação bombástica da imprensa: se fechar tal rodovia a polícia não vai permitir, se tomarem tal caminho a policia não vai aceitar, se dirigirem ao palácio tal o choque vai agir. Tentativas fracassadas de coação midiática (mafiomidiáticas), torpes e totalmente desnecessárias. Mesmo desautorizadas pelo povo nas ruas as forças autocráticas, não se limitam a formar cordões de orientação, de isolamento, de fluxo de trânsito (nesse particular foram incapazes de propor rotas de fuga ou alternativas aos motoristas) elas queriam estabelecer limites, determinar locais de reunião, proibir passeatas em perimetrais, marginais, supervias, anéis, alças e principalmente prédios públicos, que ufanisticamente são residências do povo e não dos governantes.

Além do factoide da arruaça, taxado de vandalismo, no trágico afã de esvaziar o sentido dos movimentos de protesto, a Policia Militar e demais órgão de segurança passam a monitorar as redes sociais. Com informações oriundas do seio das corporações, como as divulgadas por membros da Policia Militar do Estado da Bahia, não se contentam os arapongas da ditadura de 1964 em monitorar, logo determinam a infiltração nos vários grupos organizativos no intuito claro de solapá-los. http://www.apublica.org/2013/06/inteligencia-da-pm-na-bahia-infiltra-agentes-nos-movimentos-revela-capitao/

Nos primeiros dias de julho, com as paralisações nacionais dos caminhoneiros, o Poder Executivo começa a esticar ainda mais suas garras melífluas solicitando ao egrégio Poder Judiciário da República o enquadramento desses na “Lei Monstro” do Ditador Getúlio Vargas, reformada obviamente nos estertores da Ditadura Redentora, denominada de Lei de Segurança Nacional, (LEI Nº 7.170, DE 14 DE__DEZEMBRO DE 1983.) exigindo o desbloqueio de Rodovias Federais. Ora se a Constituição garante o direito de reunião e de greve, essa famigerada e nazista legislação não poderia estar em vigência.

Em sentido oposto vemos indivíduos que deliberadamente atropelaram e mataram pessoas nos protestos com seus veículos automotores sendo quando presos de imediato liberados, em sentido inverso cidadãos que protestaram em vias públicas, estão sob suspeição e encarcerados sob os supostos argumentos (hipótese) de depredação do patrimônio e formação de quadrilha. O Estado pelo visto não esta “nem aí” para os protestos tendo em vista que acampar defronte a casa de governador tornou-se crime, mesmo que isso em momento algum representasse qualquer alteração da ordem pública, ou seja, privasse outros cidadãos do sagrado direito de ir e vir, visto também ser constitucional o direito de reunião como frisamos acima. Tamanha é a preocupação dos monocrátas de plantão que já estão providenciando a compra de trajes antitumulto, caso mais próximo o do Rio de Janeiro, cuja justificativa na concorrência pública, é citado: “que a unidade policial de elite “tem se deparado com diversas ocorrências de manifestação civil” e que o uso dos kits antimotim “se traduz em menos traumas e lesões nos policiais e nos manifestantes”. odia.ig.com.br/…/robocop-mais-resistente-para-enfrentar-protestos.html)

Os protestos conclui-se da máxima governamental anterior felizmente são efetivamente feitos por civis e não por baderneiros, esses civis em sua totalidade pagam impostos, os quais sofrem desvio de finalidade com essa Tomada de Preços, pois acaba-se na prática gastando na militarização da policia e não em saúde e educação do povo, que são prioridades imediatas.
Não bastassem os ardis governamentais citados acima temos ainda as denuncias de que os membros de vários grupos digitais, apoiadores dos protestos, vem sendo rastreados na WEB tendo já recebido visitas oficiosas de supostos agentes federais. http://www.anonymousbrasil.com/politica/comunicado-importante/

O desespero da estratocracia e seus sátrapas – lacaios – não nos deveria surpreender frente a protestos populares massivos, pacíficos, horizontais, apartidários, propositivos, que postulam um mínimo de transparência das ações governamentais, o respeito às leis da República e uma gestão eficaz dos recursos públicos acostumados esses única e exclusivamente a gerir Estado e Governo a luz de seus interesses e não da maioria da população. Destacamos que no rol de agressividades praticadas pelos mandatários restam detidos nas Bastilhas (cadeias condenadas pelos Direitos Humanos) brasileiras, sob falsas acusações de vandalismo, depredação, formação de quadrilha e demais acusações sobejamente infundadas dezenas de cidadãos, aos quais reiteramos nossa solidariedade e apreço, apelando aos que estão em liberdade que nos ajudem em tudo o que for possível, para que se possa obter sua liberdade. Um pequeno gesto é desde já é denunciar o fascismo do “disque vândalo” implantado por algumas polícias, quando na real se omitem do “disque corrupção”. Os verdadeiros vândalos em regra são infiltrados a serviço do golpismo de todas as horas. Por esse terror já passamos nos anos 60 e 80. Exemplo o de 27 de novembro de 1986, em protesto na Rodoviária do Plano Piloto, em Brasília, contra o fim do Plano Cruzado, chegou esse a reunir 30 mil pessoas e foi transformado por agentes infiltrados dos serviços de espionagem das Forças Armadas, ligados a setores da extrema direita no meio militar, no maior confronto entre policiais e manifestantes da cidade.

Tudo o que colocamos acima sobre a natureza policial e monocrática do Estado brasileiro é meramente exemplificativa. Com certeza absoluta os fatos e elementos que depõe contra a mediocridade dos Comissários do Povo que estão no poder é muito maior, abrangente e consistente no sentido de frear qualquer ação de cobrança, contestação e desobediência do cidadão.

P. Anarchista
Caxias do Sul, julho de 2013.

A face cruel do Estado
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