Federica Monteseny
(Escrito no 50º aniversário da revolução). Texto da publicação A importância da Revolução Espanhola
A partir do fim da Primeira Guerra Mundial, se produziu o fenômeno do fascismo. Teve suas origens na Itália, onde as massas de desocupados e ex-combatentes seguiram a demagogia de um antigo socialista, bom orador e sem escrúpulos chamado Benito Mussolini.
Na Alemanha se produziu, em pouco tempo depois, o mesmo fenômeno. Um pintor de paredes, dotado de certos dotes oratórios e de uma ambição desmesurada, fundou um pequeno partido, que se converteu no expoente da decepção produzida na massas pelo fracasso da Alemanha na penúltima guerra e pela crise econômica que a derrota tinha produzido.
Este pequeno partido imediatamente recolheu a adesão das grandes massas trabalhadoras, as mesmas caindo em si do sonho que havia produzido a Revolução Russa de 1917 e da multiplicação dos comunistas na Alemanha.
Será sempre inexplicável que num país onde chegaram a existir seis milhões de comunistas, estes seis milhões se esfumaçaram ou se somaram ao movimento de caráter nacionalista criado por Hitler com o nome de nacional-socialismo.
Não se pode excluir a parte de responsabilidade que na expansão do fascismo e do nacional-socialismo tiveram o capitalismo italiano e o capitalismo alemão, que esperaram criar, com esse movimento, estendido ao mundo, uma força reacionária que fizesse frente as agitações trabalhadoras que se multiplicavam em diversos países.
Eram o fascismo italiano e o nacional-socialismo alemão duas forças introduzidas nos países como Áustria, Bulgária e a própria França entre outros…
Espanha era uma exceção apesar do trabalho realizado pelos agentes alemães que percorriam a Península e as viagens continuas que realizavam à Itália, os assessores da direita da política espanhola.
Haviam de acabar com essa ilhota revolucionária que representava a Espanha, com uma Confederação do Trabalho com um milhão de afiliados, com uma União Geral de Trabalhadores, com uns oitocentos mil aderentes e umas forças políticas de esquerda que haviam conseguido derrubar a Monarquia e proclamar a República.
Foram precisamente os erros desta República que não soube dar satisfação as esperanças postas nela pelo povo, o que preparou o clima propicio a uma ação de força mais ou menos ligadas com o fascismo, como era a C.E.D.A (Confederação Espanhola das Direitas Autônomas), que conseguiu chegar ao poder por meio das eleições, de 1933.
Os fatos históricos foram crescendo e a pressão permanente de italianos e alemães conjuntamente com as direitas espanholas aceleraram o golpe de estado de Franco.
Porque a realidade é esta: o levantamento militar fascista não teria ocorrido sem a ajuda e a insistência dos chefes alemães e italianos que queriam que a Espanha entra-se na órbita dos fascismo.
Mas o que nem os militares espanhóis sublevados, nem as direitas espanholas, o capitalismo em suma, as forças religiosas, todo este conglomerado unido podiam esperar, era que o povo espanhol se resignasse a aceitar o que do exterior queriam impor-lhes.
Se o fascismo triunfou facilmente na Itália; se o nacional-socialismo chegou ao poder na Alemanha, traído por umas eleições; na Espanha as massas trabalhadoras anarco-sindicalistas e socialistas, os próprios homens das esquerdas, mais ou menos tíbios, não quiseram aceitar que na Espanha desaparecesse a República, a democracia e o progresso social que o povo queria e ia conseguindo.
E quando 18 de Julho de 1936, as forças capitaneadas por Franco, regulares de Ceuta, guarda civil, falangistas e o exército que somou ao levantamento, saiu a rua e pretendeu apoderar-se do centros oficiais e dos meios de comunicação, se encontrou com um povo na rua que lhe fez frente.
Em algumas cidades os governadores civis armaram aos que estavam dispostos a combater, mas na maior parte das capitais os trabalhadores foram buscar as armas onde estavam: nos paióis e quarteis.
O 19 de Julho de 1936 na maior parte da Espanha os insurretos foram vencidos e o povo havia triunfado sobre a tentativa fascista.
E não contentes com o triunfo, os trabalhadores, os camponeses, os mineiros, colocaram em marcha a produção, criando as coletivizações e demonstrando que se podia substituir o sistema capitalista por um sistema socialista libertário, onde os produtores organizavam a produção e a distribuição.
No lugar de ceder, o povo espanhol provou ao mundo que podia combater o fascismo, que se podia vencer, que se podia fazer a revolução que transformasse as estruturas sociais.
Lição dada ao mundo que o mundo não aprendeu, pois não apoiou a ação do povo espanhol, o abandonou não ajudando-o e deixando-o indefeso frente à um inimigo apoiado por grandes potências fascistas.
Por isso temos dito muitas vezes que não perdemos a guerra: perdeu o mundo que se chamava democrático e que permitiu o triunfo da reação, quando poderia evita-lo.
Pagamos caro nossa vontade de luta. O povo espanhol foi dizimado por hordas fascistas; milhares morreram sobre os bombardeios e outros milhares Franco sacrificou fuzilando-os depois de seu triunfo.
Unamuno disse, com frase profética: “Vencerás porque tens a força, mas não convencerás porque não tens a razão”.
Venceram provisionalmente. Mas trinta e seis anos depois, a história tem feito justiça e moralmente vencidos e sacrificados ontem, temos sido e somos os vencedores de hoje.
De novo o povo espanhol está na marcha e este 19 de Julho significa que, mesmo que passado cinquenta anos, novas gerações levantam as bandeiras que momentaneamente forma abandonadas e as ideias aparentemente vencidas.
Durruti disse: “Levamos um mundo novo em nossos corações”. E nossos corações não cessam de palpitar e nossos braços e nosso pensamento não cessam de lutar por esse mundo novo que chegará a realizar-se, apesar de tudo.