Fiquei triste mais uma vez (e já foram tantas!) que as pessoas anarquistas e/ou algumas que nem são, gastem seus talentos intelectuais degladiando-se como se as pessoas inimigas das pessoas libertárias estivessem dentro de nossas fileiras, ou estarão e eu não sei?

Somos poucas com maturidade suficiente para levar adiante a divulgação e conscientização do anarquismo, para passar um estudo sobre coerência ideológica possível, dentro da sociedade capitalista em que somos obrigadas a coexistir, e muitas pessoas jovens já procuram fazer guerra a suas companheiras pensando suplantá-las.

Continuando assim… e parece que vai continuar porque no Rio não é diferente, o Estado, as autoridades, a burguesia, as pessoas políticas bem como todas as igrejas não precisam perder tempo a combater as pessoas anarquistas, elas mesmas se combatem, se anulam movidas a vaidades e atavismos que lhe passaram de gerações para gerações. 

O ser humano é antes de conhecer o anarquismo e seguir por essa trilha, uma vítima de seculares deformações psíquicas, e se ao encontrar essa filosofia de vida tão salutar, não melhorar nada sua personalidade, então o anarquismo fracassou. É melhor entrar numa das milhares de igrejas e rezar, rezar muito…

Tenho notado com muito pesar, que muitas pessoas anarquistas decoraram a ideologia ácrata mas ela não lhe dá coerência, continuam como antigamente carregadas de vontade de liderar, de criar hierarquias no lugar errado…

Se as pessoas anarquistas não conseguem superar mesquinharias do sistema político/religioso em que vivemos, e fazem nas fileiras anarquistas a mesma coisa, então “estamos patanhando” como dizem as pessoas espanholas, e não saímos do lugar.

… Cada pessoa simpatizante das idéias libertárias tem na cabeça uma revolução social e, nenhuma de nós, eu também, não temos capacidade e maturidade para resolver o que seria o dia seguinte à derrubada do sistema capitalista.

…atravessamos um período histórico de muitas e graves contradições ideológicas e até humanas. Eu, por exemplo, nunca soube em tempos idos da formação de federações sem a existência de grupos anarquistas para se filiar e dar sustentação à entidade maior. Também nunca soube que se formaram federações para dizer a outras pessoas o que é certo e o que é errado. Lembro de ter conhecido e participado de congressos onde os grupos anarquistas, formados por afinidades, apresentavam e discutiam teses, para no final, aprovar uma resolução que seria a bússola até o próximo congresso.

Enfim, hoje as coisas mudaram muito…

Adaptado do original de EDGAR ROGRIGUES, 27 de setembro de 2.004.

Edgar Rodrigues tem razão.

Estamos enfrentando um período histórico de graves contradições, que marcará profundamente a atuação das pessoas anarquistas no futuro.

Recentemente temos observado que o “movimento”, como dizia Jaime Cubero, vem passando por um momento de crise, que aparentemente não será resolvida de uma maneira adequada, isto é, com uma união contra um inimigo em comum.

Embora todas “encham a boca” para falar que não existe uma maneira única de dizer o que é ou de definir o anarquismo, existem princípios que não podem ser esquecidos.

Somos pessoas contrárias aos autoritarismos e a hierarquias, sendo dever de cada militante denunciar tais práticas em quaisquer coletivos/organizações pretensamente anarquistas, contribuindo assim para a preservação de nossos princípios e suas qualidades.

Não somos pessoas infalíveis e nem pretendemos ser “donas da verdade”.

Tudo é relativo e depende do ponto de vista que analisamos, para tentarmos definir o que é. Não há dogmas no anarquismo. Tudo é questionável, para melhor entendimento e aperfeiçoamento do anarquismo.

Além disso, e talvez o mais grave problema enfrentado atualmente, é a falta de pluralidade no “discurso” divulgado por pessoas/grupos.

O anarquismo sobreviveu até hoje graças a diversidade das idéias de suas pessoas militantes, que sem os grilhões da hierarquia e do autoritarismo, vêm apresentando inúmeras alternativas para livrar a humanidade do caminho da barbárie e da ditadura. Aliás, o anarquismo somente pode existir onde há liberdade, principalmente onde há liberdade para pensar.

Cada pessoa militante tem uma idéia que deve ser respeitada, numa discussão, com outras pessoas militantes, as idéias vão sendo apresentadas e aperfeiçoadas.

Assim caminha a Anarquia. Ninguém impõe nada a ninguém, mas num debate franco e fraternal, cada idéia é analisada para encontrarmos as soluções, procuradas pelas pessoas que participaram da análise.

Não pretendemos ensinar nada a ninguém, mas sim construirmos um coletivo onde qualquer pessoa possa expor suas idéias, e assim contribuirmos para o desenvolvimento do anarquismo.

Antigamente, embora muitas pessoas anarquistas fossem temidas, grande parte delas era, e ainda é, respeitada, por sua conduta coerente e digna, pelos exemplos de vida honesta que legaram às suas crianças e às suas famílias. Queremos mostrar que as pessoas anarquistas continuam assim. Basta conversarmos com filhas ou netas das pessoas militantes que aqui chegaram no início do século passado, para percebermos o carinho e o respeito com que elas falam das lutas de seus familiares anarquistas.

Anarquia é coisa importante, não pertence a ninguém e merece respeito. Se não encontrarmos saídas plausíveis para o “movimento”, respeitando os princípios libertários, pouca ou nenhuma esperança restará à humanidade, que fatalmente caminhará a passos largos rumo a uma era brutal, sem liberdade.

Anarquia é coisa importante, não pertence a ninguém e merece respeito
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