Qualquer federação anarquista é resultado da necessidade de união de forças para a luta e ação direta. Seu objetivo não é disciplinar ninguém, mas através do apoio mútuo e o compromisso com os conceitos anarquistas, gerar um acordo federativo, com interesses e ações onde todas possam se envolver. É um exercício de cultura social que mostra formas de relações entre pessoas pautadas em apoio mutuo, liberdade, autogestão e bem estar de cada pessoa e geral.
Isso é bem diferente de formar uma organização rigorosa e disciplinada, com um código rígido. Isso “acorrenta” o dinamismo e flexibilidade anarquista e torna a anarquia, um partido político!
Como “partido”, copiam sua linguagem, seus maneirismos, sua lógica (maioria versus minoria, votação, quadros, frentes, inserção e alianças para obter vantagens políticas para o movimento, como se isso fosse preciso), querem atuar dentro das instâncias oficiais, legais e estatais, mesmo que neguem, ou seja, uma antinomia e um paradoxo (como escreveu Proudhon).
A anarquia é rebelde, é insubmissão, querer disciplinar a rebeldia é tirar dela sua vitalidade, sua energia, suas características essenciais como pensamento de atitude direta e emancipadora.
Mas é preciso um compromisso coletivo em uma federação para que não se torne um algo solto demais, existem pontos importantes que todas aceitam como proposta comum de uma iniciativa federalista.
Quem institui isso? Não é outra federação, não é um grupo, não é uma linha de pensamento apenas, mas o conjunto todo, reunido com as armas abaixadas ou miradas contra inimigos comuns.
Dessa forma é absurdo formar uma federação anarquista de um determinado local sem reunir todas as pessoas anarquistas e grupos, compreender suas realidades e a partir disso formar acordos mínimos de solidariedade que crescerão até formar uma federação anarquista enriquecida pelas diversidade de experiências e ações. Percebe-se que a proposta se desenvolve em cada pessoas e grupo, ou seja, da estrutura mais simples e essencial da anarquia para daí formar a federação anarquista.
Isso acontece através do compromisso e não pela força, não pela imposição, nem pela disciplina proto-partidária.
Muitas acreditam que é ilusão essa pretensão de unir todas pessoas anarquistas. De fato, a rebeldia é arisca a qualquer forma de gestão que oprima e explore. Trabalhamos para conseguir a união possível de todas as anarquistas, e mostrar que a luta coletiva e individual contra inimigos comuns é responsabilidade de todas (daí, não podemos formar frentes com partidos, grupos vanguardistas, golpistas, estatizantes, autoritárias e impositivas que querem apenas fazer troca de poder e não aboli-lo de vez) formando as condições mínimas para um acordo mínimo, isso não assegura que todas estejam unidas, mas assegura que todos possam ao menos se respeitar, de forma que a luta esteja canalizada para os obstáculos e inimigas comuns, o que é a melhor coisa.
Estamos em uma guerra de classes, de grupos de dominantes contra dominadas, a composição de processo federalista é aumentar nossas forças pela união nesse enfrentamento, e sabermos que poderemos contar com mais de uma frente de luta e que as pessoas e grupos assumidas como anarquistas, não nos atacarão em uma situação de “fogo amigo”.
Por fim, digam e escrevam o que quiserem, mas enquanto se pautarem em disciplinar a anarquia, uniformizá-la e domesticar sua energia, sua rebeldia, castrar suas potencialidades, tenham certeza que muitas pessoas anarquistas as terão como inimigas também!
Deixamos aqui uma frase importante e pertinente a situação:
“Aquela pessoa que botar as mãos sobre mim, para me governar, é uma usurpadora, uma tirana. Eu a declaro minha inimiga.” Joseph Proudhon.
Ps: “Disciplina” e “discípulos” vêm da mesma origem etimológica. Aquela pessoa que segue, a pessoa que é obediente, uma serviçal, uma pessoa lacaia, e daí para uma pau mandada.
Por isso, se alguma pessoa te oferecer uma “disciplina” (mesmo que seja “libertária”), insubmissão nela!