Não me surpreendeu nem um pouco, quando um amigo veio, indignado, comentar que nos protestos a favor da Dilma e do PT, a CUT estava pagando pessoas para comparecerem as ruas defendendo suas bandeiras. A prática, que não é uma característica apenas do PT, mas de diversos outros partidos políticos, inclusive os ditos de esquerda, como até mesmo o PSOL, já é manjada por quem participa de atos nas ruas. O partidarismo cria um ramo de profissão. Pessoas se filiam não pela causa, mas simplesmente como uma relação de trabalho. Basta prestarmos atenção, há uma infinidade de “militantes profissionais” que são pagos não apenas para comparecer em um protesto, mas partidos chegam a bancar cursos universitários para, por exemplo, mantê-los como presidentes de DCES.

Não quero através deste texto, atacar a pessoa que aceitou trinta reais para vestir um colete vermelho da CUT e gritar jograis pró-PT. A condição financeira de muitas pessoas trabalhadoras é triste e não me sinto no direito de julgá-las individualmente, mas acho legítimo que se problematize este tipo de corrupção, que não parte destas pessoas, mas sim, dos mais altos cargos dos partidos e sindicatos pelegos.

O que me surpreendeu, de verdade, foi ver opiniões de jornalistas de esquerda, gente “formadora de opinião”, defendendo a prática: “O que é que tem se o cara ganha 30 reais ou cinquentinha para panfletar? Isso é corrupção? Claro que não!” Me preocupa muito esta mentalidade de fins justificando os meios, essa blindagem e falta de autocrítica desta esquerda pelega, como se, para combater um “mau maior”, tudo fosse válido, inclusive comprar pessoas para simplesmente fazer volume nas ruas.

É uma estratégia corrupta, não apenas por se aproveitar da necessidade das bases que muitas vezes realmente precisam de um trocado a mais para comprar pão para a família, mas acima de tudo, por mentir, fazendo com que a população acredite que havia um determinado número de pessoas engajadas com as pautas, sendo que, na verdade, estavam ali só por necessidade desse trocado a mais.

Quando uma pessoa jornalista, que se diz de esquerda e defensora da liberdade e dos interesses sociais coloca panos quentes em cima de atitudes deste tipo, não está defendendo a pessoa pobre que necessita da renda extra que a CUT irá lhe pagar, está claramente dizendo que não importa a motivação de quem está nas ruas, que para atingir os objetivos socialistas vale tudo, inclusive comprar gente para fazer volume e enganar a população. Uma pessoa com este tipo de moral, defenderia, facilmente, a compra de votos, por exemplo. A lógica é a mesma, tanto as urnas quanto as ruas são formas de medirmos as motivações da população, quando a população vê uma grande multidão com bandeiras vermelhas, acreditam realmente que essas pessoas sabem o que tais bandeiras signifiquem. Na verdade, pessoas nas ruas são muito mais importantes que pessoas nas urnas, o que, torna esta prática corrupta ainda mais maquiavélica.

Não é de hoje que a esquerda partidária se utiliza dessas corrupções “menores”, e não é de hoje que suas pessoas militantes mais fervorosas defendem tais práticas, chegando a acusar quem os denunciam de serem “pequenos burgueses”, “individualistas” ou “coxinhas”, numa espécie de falácia simplista. Ora, se vamos falar em burguesia, porque não questionamos a própria CUT e sua resistência em levantar a bandeira pelo fim do imposto sindical? Ou o PT e seus conchavos com empresários, ruralistas assassinos de indígenas e até mesmo com a direita neoliberal?

Por isso, muitas pessoas anarquistas, preferem distanciar-se de tais bandeiras, elas não nos representam e o pouco contato que temos com estas pessoas “camaradas” sempre é muito complicado. Até mesmo para realizar uma manifestação simples temos nossas ressalvas, pois essas pessoas partidárias sempre aparecem com panfletos, bandeiras e materiais que surgem como num passe de mágica. E quando questionamos sobre a procedência da verba para tais materiais, se irritam, desconversam, nos acusam de “chatice” e por aí vai.

Depois a direita mais reacionária vem acusar a nós anarquistas de estarmos sendo pagos por este ou por aquele partido. Chegaram a dizer que praticantes da tática black bloc estavam ganhando duzentos reais do PT, ou que punks estariam sendo “recrutados” pelo PSOL. A ideia destes conservadores deixa de ser estúpida e começa a ganhar forças a partir do momento que práticas como esta da CUT são desmascaradas e até mesmo defendidas pela esquerda pelega. E quando nosso afastamento de tais partidos é notado, nos acusam de “sectarismo”. Quando nos recusamos a participar destas “pequenas” corrupções, somos acusados de sermos “puristas” ou “inocentes”. Os “camaradas” da esquerda partidária que nos perdoem, mas para nós os meios são tão importantes quanto os fins!

Seguiremos nossa luta sem tratar pessoas como números ou mercadorias a serem compradas.

Por A.A.

Os fins e os meios
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