Métodos de controle social eficientes são mantidos, como é o caso do circo romano, arenas construídas para serem palcos de shows para uma plateia ansiosa por algo que possa encher o vazio de suas frustrações, de suas necessidades não satisfeitas. O processo de distração romano era pago por ricos patronos, políticos de alto escalão e mesmo os imperadores que ganhavam prestígio, respeito e mantinha a plebe sobre controle. Nesses momentos também era ofertado muito pão (pão e circo virou uma indicação dessa forma de controle), obtido dos celeiros de Roma que eram o Egito e parte do Oriente Médio.

A atualização desse modelo sofreu algumas modificações, mas a proposta base é a mesma, oferecer o famoso ópio para a população. No século XXI as principais mudanças é que a plebe tem que pagar ingressos, já que os patronos perceberam que não precisam só gastar nesse processo, e podem até obter mais ganhos, além de ter a população amansada. Nas arenas modernas, a plebe paga para ver o show: seja um jogo do esporte favorito, seja um espetáculo do grupo ou da pessoa idolatrada, seja em festivais de chacina e violência contra animais (os rodeios, touradas e afins).

No Brasil, onde com um deficit habitacional enorme, cerca de mais de 8 milhões de moradias (conforme cadastro e levantamento do IPEA), possivelmente essa falta habitacional seja muito maior, temos o curioso investimento na construção de enormes “coliseus” buscando dar espetáculos ao povo.

Nosso país é conhecido pela péssima distribuição de renda e pela alta concentração da mesma em uma parcela muito pequena da população. É escancarado que a construção dessas arenas com investimento publico, mas tocado pelas mega empreiteiras particulares, com uma mão de obra flexibilizada e sem moradia, atendem aos interesses de especulação pura do setor empresarial de esportes e de shows. Muito pouco restou no final dessas obras e dos eventos que possamos realmente contar como um saldo positivo, que contribui com a redução do índice de desenvolvimento humano (IDH) que temos.

Mantemos a posição que os investimentos de construção necessários no país são o que realizam a construção de moradias populares dignas. No caso temos outro grande problema, é que o modelo habitacional no país foi transferido para as megaempresas de construção e essas procuram oferecer projetos superfaturados, mas de obras reais de péssima qualidade, entrega-las fora do prazo e em locais que elas projetaram, sempre nas regiões mais marginais possíveis dos centros urbanos. Isso é muito descaso com nossa gente que precisa demais desses imoveis.

Mas a construção das super-arenas continuaram por ser “necessárias”, mas a quem? Acreditamos que se fosse oferecido uma opção as pessoas trabalhadoras dessas obras em que pudessem escolher as arenas ou a casa para suas famílias, teríamos outro desenrolar dos fatos.

Se bem que com a “paixão” dada a um esporte “espetacular” que nada retorna de material à seus torcedores, podemos ter a surpresa de muitas pessoas preferirem as arenas, mesmo condenando suas famílias em continuarem a viver em péssimas habitações. Só é necessário, repetimos, aos grandes empresários, as grandes construtoras, aos políticos que podem explorar aqueles espaços e angariar votos e simpatia para sua quadrilha, ops, partido.

O sucesso do circo romano se mantém atual, o seu controle social é inequívoco: a capacidade de mudar o foco do povo/plebe e inverter as prioridades das ações publicas com total falta de respeito com a nossa gente leva a termos enormes bolsões de sub-moradias e periferias desestruturadas, em torno de grandes espaços consagrados a ilusão de uma alegria efêmera e volátil.

Boicotar as arenas, aos jogos e shows é uma opção que une para mudanças pela emancipação de nossa gente, em busca de suas necessidades básicas atendidas de fato e não maquiagens de programas assistencialistas.

Circos romanos contemporâneos
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