Todas as pessoas e grupos das mais variadas formas e nomes, procuram de alguma forma preservar, manter aquilo que lhe é útil e importante. Todas as experiências, vivências e convivências estão sujeitas a algum tipo de registro e com o tempo esse registros se tornam preciosas fontes de informações dos fatos que se passaram.
Entender a importância que isso representa é um ato de consciência muito importante. Desse entendimento podemos desdobrar na importância de como esse registros nos chegam e quem os produz e os mantém.
Os registros da memória do movimento anarquista no Brasil estão espalhados e de forma fragmentada, e em muitos casos sobre o controle de grupos e pessoas que não possuem nenhuma ligação com o anarquismo, não atuam como anarquistas e nem compreendem o que é a prática anarquista, embora queiram em vários casos, exercer alguma autoridade “anarcologica” por reterem documentos e registros, obtidos em vários casos de forma comercial, fraudulenta e outros casos simples expropriações de nossos espaços atacados pela repressão (materiais confiscados pelas forças armadas por exemplo).
Foram lembrados recentemente os 100 anos da Greve Geral de 1917. Acompanhamos as manifestações, conversas e discussões em torno desse fato ocorrido. Em várias delas, existem lacunas e omissões propositais do ocorrido e isso acontece porque quem conta a história faz uma seleção prévia, de acordo com seus princípios ideológicos.
Com isso, por exemplo se omite ou passam de forma muito superficial que uma greve de tal envergadura, a maior até hoje na história do sindicalismo brasileiro, foi realizada por organizações sindicais clandestinas, consideradas criminosas pelas autoridades da época. Essas organizações tinham bases anarcosindicalistas e possuíam milhares de associadas anarquistas. Produziam jornais e promoviam teatros, mantinham escolas, coletavam recursos para as pessoas trabalhadoras doentes, ajudavam nos casos de enterros, mantinham bibliotecas e espaços culturais e sociais. Faziam campanhas sobre prevenção de acidentes, sobre a conscientização dos problemas do álcool. Isso tudo em um Estado que tratava a questão social como caso de polícia, onde milhares de pessoas eram presas, levadas para campos de concentração e no caso de estrangeiras, deportadas para serem executadas em seus países de origem.
Isso é só uma ilustração de que essa memória não será mantida pelas forças dominantes, nem pelos setores da esquerda totalitária, autoritária (majoritariamente de matiz marxista em suas variadas facções) que possuem uma clara atitude de silenciar diante dos fatos que não os agradam. Não ficam apenas nesse silêncio, em vários episódios tentam reescrever a memória, deformando os fatos em manobras falaciosas e o farão, porque almejam o controle e não a emancipação de nossa gente.
Preservar os nossos fatos, nossa memória é garantir munição para a luta de emancipação na qual estamos envolvidas.
Só a luta nos dignifica e liberta!