Muitos entendem que os movimentos sociais estão em um nível de construção revolucionária muito a frente do sindicalismo, se entendermos que se referem justamente ao sindicalismo oficial, legal, reformista, fascista que já foi referido, realmente é um fato.
O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MSTeto) são exemplos disso. Constituídos por uma diversidade populacional, na maioria oprimidas e exploradas e por grupos ditos de esquerda que disputam as coordenações dos movimentos, imprimem às ações um caráter combativo e até em muitos pontos, revolucionários aos olhos de uma elite acostumada a mandar sem ser questionada. E muitos apresentam teses que apontam que esse sindicalismo tem que ser uma espécie de “mecenas” para esses movimentos sociais, que servem de inspiração e um “norte revolucionário”, já que esse sindicalismo oficial/legal/reformista não possui tais características.
Como foi apresentado, na construção do sindicalismo brasileiro contemporâneo, não houve nenhum comprometimento com as propostas revolucionárias, como era preconizado nos primórdios da COB de 1906 e de suas práticas posteriores até seu desmonte definitivo pelo fascismo varguista. Assim, é um erro acreditar que o sindicalismo pregado e praticado pelas centrais sindicais oficiais, legais e reformistas chegará algum dia algum tipo de comunismo ou socialismo, ou que mudará suas diretrizes para um programa de emancipação das trabalhadoras conforme apresentamos.
Vamos além e afirmamos que elas não manterão nenhum apoio a qualquer movimento que coloque seus valores em crise ou que sejam contrários a suas práticas. Não se pode morder a mão de quem alimenta e isso deveria ser consciente para todas aquelas adeptas das propostas emancipatórias.
Logo, não deveríamos perder nosso tempo e energia em procurar justificativas para receber apoio dos sindicatos oficiais, mas combatê-los, construindo um sindicalismo revolucionário legitimado através de práticas livres orientadas para emancipação definitiva de todas.
O que isso realmente significa?
Que como anarquistas e ou sindicalistas revolucionárias, devemos atuar nos locais em que trabalhamos, em que estudamos, em que moramos, no sentido de formar grupos e associações que tenham como referência o sindicalismo revolucionário e anarquia (autogestão, federalismo, ação direta, solidariedade, internacionalismo, liberdade etc). Uma prática diferente que leve a um resultado diferente na luta revolucionária.
Uma coisa é construir um sindicalismo marginal e revolucionário e combater o sindicalismo oficial, legal, evitando a lógica profissionalizada dos partidos e sindicalistas forjados nesse ambiente já infestado de oportunistas.
A outra coisa é atuar nos movimentos sociais, o que não é excludente, mas que se completa.
Nos movimentos sociais, a situação é parecida, já que neles temos todos os elementos que estão presentes no sindicalismo, uma “esquerda institucional” que quer dirigir os rumos dos movimentos, através de coordenações e diretorias com os vícios autoritários.
Mas há uma pequena diferença que devemos nos ater e que é um pequeno espaço para atuação junto de todas as oprimidas e exploradas que estão nesses movimentos, cabendo transmitir os conceitos chaves para uma estrutura realmente livre, federada, justa, de anarquia, antes de sermos removidas de dentro desses movimentos.
Quando estamos falando o que querem ouvir, nos apoiam, mas quando mexemos nas feridas autoritárias, somos tiradas desses movimentos. Já ocorreu em vários episódios, não há ilusão, ocorrerá de novo.
Não estamos disputando o poder desses movimentos, nosso trabalho recomeça do zero, com a perseverança e otimismo na humanidade e na liberdade, coisa que outras não possuem em suas verborragias demagógicas.
Em suma, não podemos atuar nos sindicatos oficiais, legais, mas combatê-los formando um sindicalismo autêntico e legitimo inspirado no sindicalismo revolucionário que descrevemos. E toda vez que podermos, é o compromisso de toda pessoa anarquista que almeje a emancipação, denunciar esse sindicalismo e propor através de ações diretas (vejam as atividades dos núcleos de sindicalistas revolucionárias que existem pelo mundo (por exemplo, a Confederácion Nacional del Trabajo|CNT espanhola e Unione Italiana Sindacale|USI), para entender o que queremos, não podemos ser coniventes com esse sindicalismo de araque das “centrais oficiais” e de uma pretensa “oposição” conivente, que levam nossa gente para a exploração máxima de suas energias sem perspectiva de mudança).
Ao mesmo tempo nos movimentos sociais, é a mesma coisa. Nossas propostas e nossas ações são claras no sentido de autogoverno, autogestão social em todas as áreas, não é possível negociar isso, é a nossa essência anarquista, não podemos negar ou ceder por algumas migalhas de melhorias.
Convidamos a todas a fazer parte dessa mudança
Na luta, somos dignas e livres!