
O consumo massivo de carne de origem animal, embora profundamente enraizado na cultura alimentar contemporânea, revela-se cada vez mais incompatível com as exigências ambientais, econômicas e sanitárias das grandes sociedades modernas. A expansão demográfica, aliada ao avanço tecnológico e ao ritmo acelerado de urbanização, intensifica a pressão sobre sistemas produtivos que, como a pecuária industrial, operam à beira de seus próprios limites estruturais. Diante desse cenário, torna-se imperativo reconhecer que a centralidade da carne na dieta coletiva é, no longo prazo, insustentável.
No âmbito ambiental, a produção intensiva de carne configura um dos principais vetores de degradação ecológica. A necessidade de extensas áreas para pastagens e para o cultivo de grãos destinados à ração animal promove o desmatamento de biomas inteiros, reduz a biodiversidade e aprofunda a crise climática por meio da emissão de gases de efeito estufa. Em sociedades populosas, essa lógica se expande de forma exponencial, gerando um círculo vicioso em que o aumento da demanda implica o agravamento das pressões ambientais e a diminuição da capacidade regenerativa dos ecossistemas.
Somam-se a isso as contradições econômicas desse modelo. A pecuária industrial apresenta um dos piores índices de conversão energética entre todas as cadeias alimentares: gasta-se muito mais para produzir muito menos. Assim, a insistência na carne como pilar alimentar de populações amplas desvela uma irracionalidade econômica que, em última instância, intensifica desperdícios, aumenta custos e expõe o sistema a vulnerabilidades decorrentes de instabilidades climáticas e logísticas. Em um mundo marcado por crises sucessivas, depender de um modelo tão fragilizado é um risco estratégico evidente.
No campo da saúde pública, os problemas tornam-se igualmente expressivos. A criação intensiva de animais favorece o surgimento e a propagação de patógenos, além de estimular o uso excessivo de antibióticos, o que acelera a resistência bacteriana — um dos maiores desafios contemporâneos da medicina. Paralelamente, estudos associam o consumo frequente de carnes vermelhas e processadas a doenças crônicas que oneram sistemas de saúde já sobrecarregados. Assim, os impactos recaem não apenas sobre as pessoas, mas sobre toda a coletividade.
Diante de tais elementos, torna-se evidente que a manutenção do consumo massivo de carne animal não acompanha as demandas de sustentabilidade, justiça social e responsabilidade intergeracional que caracterizam o debate público atual. Reestruturar o padrão alimentar das grandes sociedades não implica abolir completamente a carne de pronto, mas reduzir sua centralidade e promover alternativas mais eficientes, seguras e éticas. Em síntese, repensar esse modelo é uma exigência civilizatória, não apenas um capricho ideológico ou uma tendência passageira.





