Algumas experiências quanto anarquista mãe de duas crianças.

Reunião escolar de pais (MÃES!), reuniões estas que solicitam na grande maioria das vezes que se vá sem as crianças, queixa da baixa adesão das responsáveis nas reuniões tão importantes. Escola que crianças frequentam crianças são chamadas junto, não é a realidade das outras escolas.

Conselho das Escolas, conselho municipal que representa todos os conselhos escolares das escolas municipais de Campinas, onde teríamos a representação de no mínimo 10 pessoas do segmento pais (MÃES!) e quando muito conseguimos ter 4. Afora as professoras, pessoas que não tem como participar, pois o que fazer com as crianças? Levá-las junto?

Bem, tentei algumas vezes, não é possibilidade.

Reuniões da associação de bairro, dois dias por mês, durante a semana, a noite. Filha estuda na parte da manhã, precisa de pelo menos 8 horas de sono para ter algum rendimento escolar. Falta de interesse ou prioridade?

Por mais de um ano tenho participado de reuniões trimestrais, de forma persistente levando as crianças a estes encontros de duração média de 3 horas, cansativo para adultos, imaginem para crianças, que na esmagadora maioria dos encontros, sequer foram incluídas de alguma forma.

A possibilidade de deixar as crianças com pessoa que já ameaçou a agressão física as crianças não é possibilidade. Não há rede de apoio.

ADULTISMO, MACHISMO!

Por persistência participei destas atividades até como forma de militância de inclusão de mulheres mães, empatia com a situação beirou a zero.
Não é o que temos de ouvir constantemente que nossa emancipação se dará por nós mesmas?

Difícil quando não temos apoio nenhum dos próprios companheiros para nossa emancipação, além de toda luta contra o sistema que nos joga em segundo plano como serviçais reprodutoras dóceis. E quando nossa reação é violenta, o rótulo de histérica vem quase que imediatamente.

Incluir mulheres mães é muito mais do que dar as crianças papel, tinta, comida. Por algumas vezes em vários desses encontros elas querendo manifestar algum posicionamento e foram sumariamente ignoradas (levantavam o dedo, aguardavam a sua vez de fala, ignoradas) seres invisíveis e incapazes de expressar algo relevante aos temas, como insetos barulhentos e incômodos. Assim são vistas as crianças. Assim são vistas as pessoas jovens também, uma falsa paciência (muitas vezes mal disfarçada!) em explicar questões, apresentar possibilidades como se tudo o conversado fosse óbvio.

Ouvir de companheiros, quando apresentamos nossa situação, de que eles não podem estar em várias funções ao mesmo tempo, mas nós mulheres temos não?

Sustentarmo-nos dentro do sistema capitalista, estar na cozinha, cuidando de filhos, da casa E participando ativamente das reuniões e atividades. E não esqueçamos da disposição ao sexo a noite, com toda empolgação.

EXPERIÊNCIAS POSITIVAS

No início de todo Expressões Anarquistas, desde 2012, apresentamos a questão da possibilidade de que as crianças e mães fazerem parte, e das crianças serem acolhidas como do coletivo e de cuidados de todas, não como propriedade dos progenitores, nem de seres inferiores ou incapazes.

Que a responsabilidade não recaia a mulheres apenas e mesmo quem não saiba, tente. Como também na cozinha comunitária, quando ocorre.

Na Feira Anarquista de São Paulo, a partir da quarta edição, passou a constar o Espaço Adelino de Pinho, onde são desenvolvidas diversas atividades com as crianças. E foi nessa edição onde rolou uma conversa sobre Maternidade e Militância, “Ser mãe não deve ser uma abdicação da vida social e da luta política, como tornar essa afirmação uma prática?”
que infelizmente apenas mulheres mães e pais participaram. Sussurros Maternos, encontro de gestantes e puérperas, onde divulgamos que as crianças mais velhas das mães são bem vindas, pois este normalmente é um limitador na participação.

Desde a primeira edição do Fórum Geral Anarquista, a questão das mulheres mães também é exposta no início do evento, para que possamos realmente incluir mulheres mães nas atividades.

No 3º FGA a interação e cuidados com as crianças foi tão positiva que houve a possibilidade que as mães pudessem sair para uma cerveja tamanha a confiança e tranquilidade com o coletivo ali formado, indiferente delas estarem na comissão de crianças.

Receber retorno de mãe nos mostra que caminho certo “Gostaria de compartilhar a experiência que X teve nestes três dias de um ambiente coletivo acolhedor tanto para ele, como para mim, sua mãe. Foi experiência prática de educação libertária e de compartilhamento de cuidados com a criançada e de grande afetuosidade.

Parabéns a todas as pessoas que estavam no fórum. Caminhamos agora mais fortes e firmes.”

Apenas apontar problemas e obstáculos sem buscar soluções é mais do mesmo que somos condicionadas desde cedo. Que mais iniciativas, diálogos e mudanças sejam estabelecidas não só em alguns eventos, mas inclusão de forma concreta e real.

Maternidade e Militância
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