
No contexto urbano e rural, uma estratégia anarquista de base sintetista precisa ser ofensiva politicamente, dura contra o Estado e o capital, mas inteligente o suficiente para não cair em vanguardismo nem em ações isoladas que não acumulam força social. A agressividade aqui não é militarista, é social e organizativa, voltada para romper a passividade, disputar territórios e criar poder real desde baixo.
Nas cidades, o eixo central é o enraizamento conflitivo. Não basta existir como coletivo ideológico: é necessário meter os pés no cotidiano da exploração urbana — trabalho precarizado, transporte, moradia, carestia, violência policial. A luta se constrói a partir de ocupações, comitês de bairro, coletivos de trabalhadores informais, movimentos de moradia e espaços autogestionados, atuando sempre de forma horizontal e federada. A ação direta urbana deve ser constante e visível: greves selvagens, paralisações, boicotes, ocupações de prédios e terrenos, sabotagem social no sentido amplo (romper a normalidade da exploração, não ensinar técnicas). O sintetismo aqui se expressa na capacidade de articular diferentes setores em conflito — estudantes, trabalhadores, desempregados, migrantes — sem exigir uniformidade ideológica, mas impondo uma prática comum de enfrentamento. A cidade é um campo de guerra social cotidiana, e a estratégia precisa assumir isso: organizar para resistir, resistir para avançar.
No meio rural, a luta exige outra temporalidade, mas não menos combativa. O foco está na defesa radical da terra, da autonomia comunitária e da sobrevivência coletiva frente ao latifúndio, ao agronegócio, às mineradoras e ao Estado. A estratégia sintetista atua na construção de assembleias comunitárias, cooperativas autogeridas, redes de apoio mútuo e autodefesa social, sempre respeitando os saberes locais e evitando impor modelos urbanos de organização. A ação direta rural se manifesta em ocupações de terra, bloqueios comunitários, retomadas, produção coletiva e boicote às estruturas do agronegócio, criando fatos consumados que o poder tenta reprimir depois. Aqui, a agressividade estratégica está em não pedir permissão para existir, em construir autonomia material que torne o controle estatal cada vez mais caro e instável.
Em ambos os contextos, urbano e rural, o sintetismo se afirma como unidade na prática e diversidade na forma, recusando tanto o sectarismo estéril quanto a diluição reformista. Não se trata de convencer massas abstratas, mas de organizar quem já está em conflito, elevar o nível de consciência a partir da luta e criar estruturas populares que sobrevivam à repressão. Educação política, nesse quadro, não é palestra: é formação na luta, transmissão de experiências, memória histórica e leitura crítica da realidade, sempre ligada à ação concreta.
A estratégia de base sintetista, quando levada a sério, é inconveniente, persistente e perigosa para o sistema, porque não depende de eleições, líderes ou concessões. Ela constrói, no presente, as condições materiais e subjetivas para uma ruptura futura. Onde houver exploração — na cidade ou no campo — a tarefa é a mesma: organizar, confrontar, sustentar e expandir a autonomia popular até que o poder dominante perca o chão sob os pés.
Na luta somos dignas e livres!





