Há tempos que as terras invadidas são palco para a violência desmedida, da repressão aos povos originários, as execuções de rebeldes nas diversas revoltas que tivemos, dos sumiços de corpos no período da ditadura, das incursões policiais nas periferias, onde executam supostas pessoas criminosas.

A manutenção da desigualdade social e economica precisa de agentes que possam cumprir esse trabalho de repressão e tudo e todos que sejam classificados como criminoso será “neutralizado” ou seja, será preso ou assassinato, conforme o capricho do agente repressor e das ordens que tenha recibido.

Somamos a esse processo de violência, mais uma lamentável megaoperação policial no Rio de Janeiro, em outubro de 2025, resultando em mais de 120 mortes (ainda contando), já a mais letal da história do estado, maior que ao Massacre do Carandiru, onde 111 pessoas foram assassinadas pelo Estado de forma covarde e mais criminosa do que os processos daquelas pessoas apenadas. 

Essa é uma questão importante e inquietante: essas pessoas são pessoas, antes de serem classificadas ou taxadas de bandidas ou criminosas. Daí por serem entendidas como supostas criminosas (ainda estão averiguando se realmente eram todas envolvidas com organizações criminosas), isso dá carta branca para serem assassinadas? 

Sempre tratam as pessoas oprimidas e exploradas como “criminosas”, enquanto o sistema mantém os grupos empresariais, banqueiros, latifundiários e toda a sorte de bandido capitalista dito bem sucedido, “cidadão de bens” bem protegidos para roubarem mais e mais, de cometerem crimes com a anuência do Estado que o protege, o crime organizado legalizado, o que são de fato.

O Estado não falhou em proteger a vida dessas pessoas porque seus agentes não as enxergavam como pessoas, cidadãs brasileiras e sim, pessoas infratoras e por isso podiam ser executadas sem um processo prévio. Lembremos que o Brasil não tem pena de morte institucional, porque não precisa, as execuções são feitas pelas pessoas agentes de segurança publica, principalmente nas periferias e comunidades mais vulneráveis. 

No caso da megaoperação de extermínio, foi focada em reprimir o avanço da facção criminosa Comando Vermelho (CV) nos Complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte, gerou intensos confrontos e grande repercussão. Em muitos desses espaços, há que considerar as forças de milicianos (policiais e militares que se fazem de justiceiros, mas que de fato, são organizações criminosas associadas às forças de repressão). Dependendo da situação, é muito possível que essas milícias assumam os espaços deixados pela megaoperação.

O número de mortos durante a operação varia em diferentes relatos, mas a contagem mais alta chegou a 121 pessoas (entre supostos criminosos e militares). Moradores relataram ter retirado dezenas de corpos de uma área de mata nos complexos. Isso porque as forças repressivas violaram todas as regras sobre essa situação, de acionar a perícia técnica, o IML e todo o protocolo quando há pessoas mortas. A comunidade vítima das organizações criminosas (a legal e ilegal) fez o pape de trazer das matas, dezenas de corpos, muitos nus e com sinais de tiro na nuca e rosto, indicando terem sido executadas de pronto.

Houve prisões de dezenas de suspeitos, incluindo criminosos de outros estados. Também houve uma grande apreensão de armamento, principalmente fuzis. A operação visava prender líderes do Comando Vermelho e combater o avanço territorial da facção. No entanto, um dos chefes, conhecido como Doca, conseguiu fugir.

Essa chacina do crime organizado legal causou comoção e protestos entre moradores e ativistas de direitos humanos, que questionaram a letalidade da ação. O Ministério Público Federal (MPF) chegou a pedir acesso aos dados da perícia dos corpos para investigar possíveis irregularidades. Por outro lado, muitas pessoas tem elogiado esse massacre, por esquecerem de que atrás de uma criminosa, há uma pessoa. Nos dias seguintes, a população viveu momentos de medo de possíveis retaliações, com comércio e escolas vazias em algumas áreas. 

Os crimes do Estado para que possa se manter e sustentar o sistema continuará, esses episódios são necessários para o controle social, base para a manutenção das desigualdades sociais e econômicas às quais somos submetidas.

Crime organizado legal pelo Estado: monopólio da violência explícita!
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