Por Buenaventura Durruti
Já disse uma vez e repito: fui anarquista a vida inteira e o fato de ser responsável por esta coletividade humana não mudará minhas convicções. Foi como anarquista que aceitei realizar a tarefa que o Comitê Central das Milícias Antifascistas me confiou.
Não acredito — e tudo o que acontece ao nosso redor confirma isso — que você pode comandar uma milícia de trabalhadores de acordo com as regras militares clássicas. Acredito que disciplina, coordenação e planejamento são indispensáveis, mas não devemos defini-los nos termos do mundo que estamos destruindo. Temos que construir sobre novas fundações. Meus camaradas e eu estamos convencidos de que a solidariedade é o melhor incentivo para despertar a responsabilidade individual e a disposição de aceitar a disciplina como um ato de autodisciplina.
A guerra nos foi imposta e esta batalha será diferente daquelas que lutamos em Barcelona, mas nosso objetivo é a vitória revolucionária. Isso significa derrotar o inimigo, mas também uma mudança radical nos homens. Para que essa mudança ocorra, o homem deve aprender a viver e a se conduzir como um homem livre, um aprendizado que desenvolva sua personalidade e senso de responsabilidade, sua capacidade de ser mestre de seus próprios atos. O trabalhador no trabalho não apenas transforma o material em que trabalha, mas também se transforma por meio desse trabalho. O combatente nada mais é do que um trabalhador cuja ferramenta é um rifle — e ele deve se esforçar para o mesmo objetivo que o trabalhador. Não se pode comportar como um soldado obediente, mas como um homem consciente que entende a importância do que está fazendo. Sei que não é fácil conseguir isso, mas também sei que o que não pode ser alcançado com a razão não será obtido pela força. Se tivermos que sustentar nosso aparato militar com medo, então não teremos mudado nada, exceto a cor do medo. É somente libertando-se do medo que a sociedade pode se construir em liberdade.
Título: Autodisciplina na Milícia Operária
Autor: Buenaventura Durruti
Tópicos: milícias confederais , disciplina , Guerra Civil Espanhola
Data: 24 de julho de 1936
Fonte: Durruti na Revolução Espanhola por Abel Paz.
Notas: Originalmente publicado em Guerrilleros confederales por José Mira. Tradução para o inglês por Chuck Morse.