Por muito tempo, gerações de pessoas anarquistas se debruçaram  no desafio de organizar, para os mais variados fins e tem se mostrado um esforço grande, compensador em muitos casos e muito frustrante em outros.

A busca de um entendimento de organização que não seja opressor e nem explorador entre pessoas que a priori pensam de forma semelhante tende a se tornar uma batalha exaustiva. Nenhuma das pessoas envolvidas também não querem ser oprimidas ou exploradas, mantendo a guarda erguida entre pessoas consideradas companheiras, mas curiosamente, ao menos aqui no nas terras brasileiras, há um relaxamento dessa guarda quando se tem um relacionamento com grupos não anarquistas, como grupos hostis de partidos de esquerda, particularmente marxistóides autoritários. É até comovente perceber pessoas anarquistas “declarando voto” de 2 em 2 anos ou se submetendo às estruturas institucionais estatais, assessorando partidos e usando todas as táticas autoritárias e políticas profissionais nas organizações que participam.

 Não podemos culpá-las porque os ambientes e as vivências de muitas dessas pessoas foram em sua maioria de práticas autoritárias, hierarquizadas, centralizadoras, competitivas e impositivas. 

O que podemos e temos como compromisso é evidenciar essas práticas, rompe-las de forma direta com a metodologia anarquista, de tal forma processar mudança das atitudes e consciência das pessoas. 

A organização anárquica em sua concepção mais simples e direta é uma prática onde todas as pessoas envolvidas não são opressoras e nem oprimidas; que todas as pessoas envolvidas não sejam exploradas e nem exploradoras. 

Escrito e combinado isso, tudo o mais é o melhor arranjo possível entre todas as pessoas, inclusive, isso abre um leque enorme de possibilidades organizativas, onde gera muitos desentendimentos e cizânias. 

O que a nossa experiência tem nos mostrado, que muitas vezes as pessoas não conseguem lidar com propostas de consenso ou que o que é apresentado não está de acordo com as ideias de alguma grande “pensadora idolatrada” da vez e que é repetida como uma gravação contínua lacradora sem nenhum tipo de filtragem, o que leva a enormes discussões sem fim e rachas que se tornam insuperáveis pelo tempo. “A nossa organização é mais organizada que a sua”… “a minha organização faz mais textos lacradores e ostenta mais teoria, tem mais anarcologia que as outras”… besteira!

Nossa obsessão por uma revolução de base anarquista se torna tão grande que não percebemos que patinamos nos processos iniciais de organização e sacrificamos o pouco tempo e recurso que temos em picuinhas secundárias, enquanto o sistema nos oprime e explora por 24h de forma ininterrupta, isso em nossa localidade, em nossa região e com a nossa gente.

Então, onde é que a atuação direta é necessária? 

Na base,  organizando a revolta e a rebeldia, descentralizando e horizontalizando tudo em zonas autônomas de luta e resistência.

Nessa altura da leitura, é possível que tenham pessoas que estejam concordando com isso. Fica então com o convite e a provocação de agir local em práticas anárquicas e se possível com mais pessoas. Por mais poderosas que sejamos, se nos unirmos às outras pessoas poderosas, formaremos um grupo, um coletivo, uma associação, uma sociedade muito mais poderosa… se a concórdia e os egos permitirem!

Na anarquia, há uma concepção organizativa muito presente, diferente do que muita distopia tenta associar ou que muita gente associa com caos, bagunça e baderna. A anarquia é vivida sem controle de forma nenhuma, em livre associação de todas as pessoas em comum acordo, tendo em vista não oprimir e nem ser oprimida nem explorar e nem ser explorada, isso é repetido pela importância do conceito.

Na luta somos dignas e livres!

Anarquia organizada
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