O anarcosindicalismo não pede passagem porque não reconhece a estrada. Ele surge como um grito rouco no meio do turno, como a recusa seca diante da ordem injusta, como a decisão coletiva de parar a máquina que nos mói. No Brasil do século XXI, falar de trabalho é falar de guerra social permanente: salários como chantagem, metas como tortura psicológica, algoritmos como capatazes invisíveis. Chamam isso de modernização. Nós chamamos de barbárie organizada.

O sindicalismo oficial não é erro, é engenharia de contenção. Foi desenhado para administrar derrotas, transformar fúria em formulário, converter greves em eventos protocolares com hora marcada para terminar. Seus dirigentes são especialistas em sobreviver ao próprio fracasso, mediadores profissionais entre o suor e o lucro. Enquanto isso, a base apodrece em silêncio, ensinada a esperar, a confiar, a aceitar o possível — palavra suja que significa aceitar menos.

O Estado, esse gerente geral da exploração, nunca foi árbitro. Nasceu do chicote, cresceu no cárcere, amadureceu na legalidade seletiva. Toda lei trabalhista é uma coleira com prazo de validade; toda reforma é uma faca afiada com discurso técnico. Quando a greve ameaça de verdade, o Estado mostra os dentes: multas, demissões, criminalização. A mensagem é simples e obscena: trabalhe ou suma. Contra isso, não há recurso administrativo.

Há ruptura!

O anarcosindicalismo não é uma opinião, é um método de sobrevivência coletiva. Ação direta porque ninguém vive de promessas. Autogestão porque delegar é morrer aos poucos. Solidariedade porque isolados somos descartáveis. Assembleias porque obedecer não resolve. Onde a empresa divide, unimos; onde precariza, organizamos; onde ameaça, respondemos.

Não pedimos autorização para existir!

Não há categorias, há pessoas exploradas. O entregador “autônomo” é assalariado sem direitos; o terceirizado “flexível” é descartável por contrato; o informal “empreendedor” é fome com CNPJ. O capital dissolveu as formas antigas para intensificar a violência. A resposta não é nostalgia sindical, é reinvenção radical da luta. Não organizamos profissões, organizamos a vida contra o trabalho imposto.

Não prometemos hegemonia, prometemos incêndio — não o espetáculo vazio, mas o fogo lento que corrói a normalidade da submissão. Somos minoria porque recusamos mentir, porque não vendemos carreira política, porque não embalamos derrota como vitória. Mas em toda crise, quando a engrenagem falha e o medo muda de lado, reaparecemos. Sem palanque. Sem mesa de negociação. Sem permissão!

Não há reforma possível para um sistema fundado na extorsão diária do tempo e do corpo. O século XXI acabou com as ilusões: ou a classe se auto-organiza de forma radical, ou será administrada até o esgotamento final. O anarcosindicalismo é a negação total do trabalho como destino, do Estado como tutor, do capital como inevitável.

Não esperem pessoas líderes. Não aguardem a próxima eleição sindical. Não confiem em pessoas salvadoras. Organizem-se onde estão, no chão do trabalho e do bairro, no ponto de ônibus e no depósito, na fila e no intervalo. Façam do cotidiano um campo de luta. Construam poder fora da lei que os explora. Nada será concedido a quem pede. Tudo muda quando se toma.

Na luta somos dignas e livres!

ANARCOSINDICALISMO — BRASIL, SÉCULO XXI