O que se entendia por anarco-sindicalismo, ou sindicalismo revolucionário?
Já bem antes do Congresso de 1906, as associações de classe principiaram a definir seus métodos de luta e suas ideologias. Muitas eram as pessoas pensadoras que definiam a doutrina do movimento operário em todo o mundo. O movimento operário do Brasil, não era só integrado por pessoas militantes de diversos países, que aqui viviam e trabalhavam, mas também mantinha intercâmbio de idéias e de imprensa, principalmente com os países da América Latina e da Europa. As Federações Operárias do Brasil tinham vínculos e filiações nacionais e internacionais, através da A.I.T (Associação Internacional das pessoas Trabalhadoras) com sede na França.
O anarco-sindicalismo era, portanto, uma idéia universal com características de solidariedade entre as pessoas.
Vejamos como suas militantes da época o definiam:
“O sindicalismo é uma doutrina e um método de luta”[1].”É um movimento que agrupa, por meio de associações (locais, industriais, regionais, federais, nacionais e internacionais), os trabalhadores, visando a defesa comum dos seus interesses imediatos e futuros, materiais e morais, profissionais, intelectuais e sociais. Dentro do sistema que preconiza, figuram em primeiro lugar a transformação da sociedade e a abolição das classes. O sindicalismo possui como bases morais, a solidariedade e o auxílio mútuo. Propugna a unidade humana, a colaboração intrínseca das pessoas trabalhadoras manuais e intelectuais, formando uma só união universal”[2].
A ação direta é a sua principal característica, como meio para levar a bom termo os seus fins, quais sejam: abolição do salariato, o desaparecimento do patronato, da propriedade privada e do Estado. O Sindicalismo Revolucionário preconiza a fusão de três grandes e importantes fatores da vida humana: mão de obra, técnica e ciência. É um sistema associativo que caminha para completa emancipação das pessoas trabalhadoras, suprimindo a patronal pela ação direta expropriadora e o advento da sociedade futura[3].
O lema sindicalista, emana da primeira Associação Internacional dos Trabalhadores (A.I.T.), nascida no Congresso de Genebra, de 3 a 8 de setembro de 1866, é o seguinte: “A emancipação das pessoas trabalhadoras deve ser obra das próprias trabalhadoras” e concluía: “Não mais deveres sem direitos, não mais direitos sem deveres”[4].
Este raciocínio de ligar “direitos” com “deveres” é a grande lógica do sindicalismo revolucionário que não admitia a parasita operária nem a parasita patronal.
Segundo as linhas mestras traçadas pela “C.N.T” espanhola, (Confederação Nacional do Trabalho) o Sindicalismo é antes de tudo “um método de luta para liquidar o Capitalismo e o Estado”, Estado que segundo a opinião de suas militantes “… é, por natureza um órgão de opressão, de corrupção e de privilégios”[5].
O sindicalismo revolucionário é um movimento e uma agrupação ou agrupações espontâneas, cujas determinantes principais são a desigualdade social e a consciência de classes. Na própria Rússia, e isso se verificou:
“Desde as grandes greves dos operários têxteis, de Petersburgo, em 1895 e 1896, até a greve geral revolucionária de outubro de 1905, foi como que um sindicalismo ESPONTÂNEO que formou o mais poderoso elemento revolucionário na Rússia. E, apesar de tudo que depois se passou, é a greve de 1905 que ficou sendo a fonte de energia de tudo que se levantou contra o Czarismo”[6].
O sindicalismo revolucionário não é apenas proletário, é também socialista revolucionário e alimenta sentimentos indomáveis da liberdade[7]. É um permanente opositor à aceitação passiva do estado de miséria e de opressão, da sujeição a uma educação mentirosa[8]
O sindicalismo revolucionário ou anarco-sindicalismo, poder-se-á resumir no seguinte: É uma realização prática e experimental das leis científicas da sociologia. O seu pleno desenvolvimento assegura-lhe uma vida social progressiva e perfectível de propriedade, de bem estar, de moral e de justiça. Cria nos indivíduos uma ideologia libertária e de solidariedade humanista universal. É a escola experimental da ideologia.
O sindicalismo, super-organismo social, atinge a plena vida de solidariedade natural, funcional, consciente e livre, e a pessoa dentro do sindicalismo alcança o desenvolvimento integral e harmônico das suas múltiplas energias e da sua satisfação, das complexas e ilimitadas necessidades afetivas, intelectuais e sociais.
O sindicalismo comporta dentro de sua organização, todos os órgãos necessários à vida, e permite o aperfeiçoamento progressivo dentro da sociedade capaz de acompanhar o desenvolvimento da ciência e da técnica. Em seus quadros abriga órgãos de produção e de distribuição das utilidades e reguladores do consumo, estabelecendo o lema: de cada uma segundo as suas capacidades e para cada uma segundo as suas necessidades. Como organização social é completa e integral, quer para realizar e estruturar todas as instituições da sociedade futura: não precisa de órgãos estranhos ao meio sindical. Possui o que se poderia chamar de: Todos os meios para coordenar o bem-estar social.
O sindicalismo é uma unidade de resistência, de luta, o embrião da nova sociedade que se criou com a pressão natural das condições de vida, das necessidades econômicas, familiares, artísticas, científicas e morais, da coordenação e da solidariedade humana. Cada grupo de necessidade carrega agregados naturais de criação, produção e distribuição.
O elemento mais simples no sindicalismo é a pessoa – célula componente do tecido social. Esta toma diversos aspectos e adaptações – profissões e funções sociais – no instante em que contribui com as suas energias, capacidades e habilitações – cumprindo deveres para com a nova sociedade, forma o tecido da coletividade, cuja função é criar certa e determinada utilidade.
]O sindicalismo é uma organização com base nas profissões – manifestações espontâneas de tendências, aptidões e indivíduos sociáveis – que tem os seguintes objetivos a realizar simultaneamente:
1º-Imediato e subjetivo – De defesa, de luta direta de classes e de expropriação do regime burguês;
2º-Mediato e objetivo – De preparação técnica, de educação social e cultural;
3º-Mediato e objetivo – De reconstrução social.
A organização sindicalista é essencialmente revolucionária, rejeita os princípios de ação política, tem meios para agir exclusivamente anti-políticos e anti-estatais; é alheia aos poderes governativos; é essencialmente pedagógica, cria em cada indivíduo um valor positivo, uma consciência social, uma capacidade reflexiva, técnica, administrativa, de gestão, uma força ativa, um caráter justo e solidário, um artista suficientemente capaz em todos os ramos da arte, e das ciências sociais; não aceita qualquer tipo de colaboracionismo nem reformista, todavia, admite o constante aperfeiçoamento, o progresso diário das melhorias de vida social conquistadas diretamente; como organização social futura, o sindicalismo eleva a pessoa trabalhadora, tonifica-lhe a sentimentalidade, educa-a integralmente, econômica, familiar, artística, científica, moral e juridicamente e cria-lhe um conceito que por si próprio tem um alto e profundo valor e ação pedagógica. Suas associações não são agrupações autoritárias, de coação, mas órgãos de educação moral pela ambiência, pelo princípio da tolerância, pelos métodos ensinados em suas escolas puramente racionalistas livres.
No sindicalismo, não existe distinção de raças, línguas, cores, nacionalidades, sexos ou idades[9]. O sindicalismo é universalista por excelência; E, nas linhas mestras sintetiza o conjunto da organização econômica, política e social de cada país.
[1]Do “Dicionário da Questão Social” – Raul Maia – Brasil.
[2]De “Os Sindicatos Operários e a Revolução Social” – Pierre Bernard – França.
[3]De “A Luta Sindicalista Revolucionária”, de Carlos Dias – Brasil
[4]De “El Proletariado Militante”, Anselmo Lourenço – Médico.
[5]De “La C.N.T. en La Revolucion Española”. Joosé Peirats – França
[6]De “Sindicalismo e Socialismo na Rússia”, Bóris Kritchewesky – Rússia.
[7]De “Sindicalismo e Revolução”, M. Pierrot – França.
[8]De “Sindicalismo e Socialismo”, Roberto Michels – Alemanha.
[9]“Confederação Geral do Trabalho”, Manoel Joaquim de Souza – Port.