A greve geral de 1917 foi uma greve da indústria e do comércio brasileiro, ocorrida em julho de 1917 em São Paulo, durante a Primeira Guerra Mundial, promovida por organizações operárias de inspiração anarquista, anarcosindicalista (Confederação Operária Brasileira/COB, primeira organização das pessoas trabalhadoras de todo o Brasil) aliadas à imprensa libertária. Foi a primeira greve geral da história do Brasil, e durou 30 dias.

Esta greve faz parte de um processo de politização dos trabalhadores brasileiros. Uma politização que se deu em parte graças às ideias e princípios organizacionais aportados no país junto com as pessoas trabalhadoras europeias que imigraram para o Brasil buscando melhores condições de vida a partir da segunda metade do século XIX. Uma grande parcela dessas pessoas tinham destinos nas grandes fazendas, substituindo a mão de obra escrava, que não era encarada como pessoas assalariadas. Mesmo assim, nas fazendas, não havia uma mudança no tratamento com as pessoas assalariadas, levando muitas dessas para as cidades, visando melhores condições de vida.

Ainda no início do século XX, um número considerável de imigrantes abandonaram o regime de servidão imperante nas fazendas de café do interior paulista para trabalhar em fábricas na capital. No meio urbano, passaram a atuar contra as precárias condições de trabalho nas fábricas, a utilização massiva de mão de obra infantil e as jornadas laborais de mais de 13 horas. As pessoas trabalhadoras de diferentes origens fundaram diversos sindicatos e organizações de trabalhadores que compunham o movimento operário, lutando por direitos laborais básicos, como férias, salários dignos, jornada laboral diária de oito horas e proibição do trabalho infantil.

A crescente organização dos trabalhadores passou a ser vista com maus olhos pelas elites urbanas brasileiras que enxergavam ali uma ameaça aos seus interesses. Diante da organização das classes subalternas as elites passaram a assumir um discurso nacionalista homogeneizante afirmando que os trabalhadores estrangeiros estavam se voltando contra o país que os acolheu. As organizações governamentais e grande parte dos meios de mídia foram mobilizadas contra as pessoas trabalhadoras na defesa dos interesses das classes dominantes: a primeira greve geral realizada ainda em 1906 foi combatida com energia pelo então secretario da segurança pública, Washington Luis.

Naquela conjuntura o anarcossindicalismo era uma das tendências majoritárias no meio operário e se consolidava rapidamente também em outros países. No Brasil, as pessoas anarco-sindicalistas articulavam diferentes iniciativas para fazer frente exploração imbricada no projeto desenvolvimentista das elites agrárias e urbanas, e da classe política a estas vinculada. Além dos sindicatos, também foram fundadas creches, escolas de educação libertária, gráficas, jornais e fundos para auxílio saúde e luto das pessoas trabalhadoras e suas famílias. Um dos objetivos destas iniciativas era propagar entre as classes exploradas de pessoas operárias urbanos e pessoas trabalhadoras rurais a greve geral como estratégia de luta, não só por melhores condições de vida, mas também como forma de emancipação da dominação das classes dominantes.

O período de 1917 a 1920 marcou o auge dos movimentos grevistas no Brasil. Com o crescimento industrial e urbano, surgiram bairros operários em várias cidades brasileiras, a vida nesses bairros era bastante precária, refletindo os baixos salários das pessoas operárias, a jornada de trabalho estafante, a absoluta falta de garantias de leis trabalhistas, como descanso semanal, férias e aposentadoria.

A exploração era enorme!

Nas fábricas, por exemplo, ocorria o emprego maciço de mão de obra infantil, mais barata que a adulta. Muitas crianças empregadas acabavam com um dos membros mutilados pelas máquinas e, assim como os demais trabalhadores, não tinham direito a tratamento médico, seguro por acidentes de trabalho, etc.

Nesse contexto, surgiram as primeiras manifestações sob influência das ideias socialistas e anarquistas, que moviam as lutas operárias internacionais. Tanto no Brasil como em outros países, lutava-se tanto por resultados imediatos (a conquista de melhores condições de trabalhos e salários, por exemplo) como por objetivos mais amplos, dentre eles a derrubada do sistema capitalista e implantação de uma sociedade mais igualitária.

A organização das pessoas trabalhadoras resultou na fundação de associações sindicais e de jornais operários, tornando o movimento mais forte para enfrentar as inúmeras dificuldades. Seguindo o exemplo das pessoas trabalhadoras de outros países, surgiram manifestações e greves em vários estados, destacadamente em São Paulo, onde se concentrava o maior número de indústrias.

Em 1907, a cidade de São Paulo foi paralisada por uma greve que reivindicava: jornada de oito horas diárias de trabalho, direito a férias, proibição do trabalho infantil, proibição do trabalho noturno para as mulheres, aposentadoria e assistência médica hospitalar. A manifestação iniciada por pessoas trabalhadoras da construção civil, da indústria de alimentos e metalúrgicos acabou contagiando outras categorias e atingindo diversas cidades do estado, como Santos, Ribeirão Preto e Campinas.

Em 1917 houve uma onda de greves iniciada em São Paulo em duas fábricas têxteis do Cotonifício Rodolfo Crespi e, obtendo a adesão dos servidores públicos, rapidamente se espalhou por toda a cidade, e depois por quase todo o país. Logo se estendeu ao Rio de Janeiro, e outros estados, principalmente ao Rio Grande do Sul. Foi liderada por pessoas trabalhadoras e ativistas inspiradas nos ideais anarquistas e socialistas. Os sindicatos por ramos e ofícios, as ligas e uniões operárias, as federações estaduais, e a Confederação Operária Brasileira (fundada em 1906) inspirada em ideais anarquistas.

Com o início da Primeira Guerra Mundial, o Brasil tornou-se exportador de gêneros alimentícios aos países da “Tríplice Entente”; essas exportações se aceleraram a partir de 1915, reduzindo a oferta de alimentos disponíveis para o consumo interno, e provocando altas em seus preços. Entre 1914 e 1923, o salário havia subido 71% enquanto o custo de vida havia aumentado 189%; isso representava uma queda de dois terços no poder de compra dos salários. Para salário médio de um operário de cerca de 100 mil réis correspondia um consumo básico que para uma família com dois filhos atingia a 207 mil réis. O trabalho infantil era generalizado. Essas condições tornam a vida de cada pessoa trabalhadora insuportável, levando a manifestarem em paralisações e aumentando sua adesão as organizações sindicais, que eram associações vistas como criminosas pelo governo brasileiro que as reprimia.

Em 9 de julho, uma carga de cavalaria foi lançada contra os operários que protestavam na porta da fábrica Mariângela, no Brás resultou na morte do jovem anarquista espanhol José Martinez. Seu funeral atraiu uma multidão que atravessou a cidade acompanhando o corpo até o cemitério do Araçá onde foi sepultado. Indignados e já preparados para a greve os operários da indústria têxtil Cotonifício Crespi, com sede na Mooca entraram em greve, e logo foram seguidos por outras fábricas e bairros operários. Três dias depois mais de 70 mil trabalhadores já aderiram a greve. Armazéns foram saqueados, bondes e outros veículos foram incendiados e barricadas foram erguidas em meio às ruas.

As ligas e corporações operárias em greve, juntamente com o Comitê de Defesa Proletária decidiram na noite de 11 de Julho numeraram 11 tópicos através dos quais apresentavam suas reivindicações.

  • Que sejam postas em liberdade todas as pessoas detidas por motivo de greve;
  • Que seja respeitado do modo mais absoluto o direito de associação para os trabalhadores;
  • Que nenhum operário seja dispensado por haver participado ativa e ostensivamente no movimento grevista;
  • Que seja abolida de fato a exploração do trabalho de menores de 14 anos nas fábricas, oficinas etc.;
  • Que os trabalhadores com menos de 18 anos não sejam ocupados em trabalhos noturnos;
  • Que seja abolido o trabalho noturno das mulheres;
  • Aumento de 35% nos salários inferiores a $5000 e de 25% para os mais elevados;
  • Que o pagamento dos salários seja efetuado pontualmente, cada 15 dias, e, o mais tardar, 5 dias após o vencimento;
  • Que seja garantido aos operários trabalho permanente;
  • Jornada de oito horas e semana inglesa;
  • Aumento de 50% em todo o trabalho extraordinário.

A Greve durou 30 dias, com a patronal dando o reajuste exigido pelas pessoas grevistas, porém as outras reivindicações foram deixadas para um segundo momento, que não ocorreu devido ao processo de repressão que se seguiu. Muitas das pessoas grevistas foram deportadas e outras demitidas sem garantia de direitos básicos.

A Greve Geral de 1917 no Brasil continua sendo uma das maiores greves dado ao alcance e da diversidade de entidades sindicais, dos ramos profissionais envolvidos nesse processo.

Greve Geral de 1917 – Primeira grande greve no Brasil
Tags: