O processo de organização por emancipação é desenvolvido ao longo das gerações, às vezes mesmo tendo que começar quase do zero. Em muitos casos é a repressão ou profundas divergências que não resolvidas da forma aberta e livre, levam a dissolução de grupos e o afastamento das pessoas do anarquismo. 

Para não aceitar o estado de exploração e opressão reinante e nem a submissão aos grupos dominantes de esquerda ou direta, que sustentam modelos autoritários e centralistas, afirmamos  os  princípios anarquistas e que são compromissos de luta de nossa gente, das pessoas oprimidas e exploradas. 

Oriundas dessa gente, sofremos a miséria e estamos indignadas com essa situação e nos organizamos para o enfrentamento, de modo a não abrir mão do anarquismo e nem dos princípios chaves que o caracteriza. 

A luta de emancipação é obra de todas as pessoas, unamo-nos!

I-Luta Popular

Os diversos conflitos que se fazem neste país é uma luta de classes opostas, com interesses opostos (dominantes e dominados).

Não é uma luta apenas contra o nacionalismo, mas contra a burguesia, as elites agrárias, urbanas e econômicas que exploram e oprimem a população trabalhadora, a nossa gente. O conflito é social, é uma questão social e diante do avanço popular, de suas demandas, a burguesia reage cada vez mais violentamente.

Portanto a luta popular só terá apoio das classes que se opõem à opressão, que são do próprio povo.

A luta popular ocorre no processo de resistir, barrar e acabar com a exploração dos grupos privilegiados, o povo se compõem em força política. Estabelece em grupo de forma organizada como resposta à repressão, reunindo esforços para difundir, por todos os atos, a idéia revolucionária a toda classe oprimida e explorada, inclusive aos que estejam iludidos com a validade e eficácia do modelo legal estatal.

As táticas e estratégias atenderão aos objetivos definidos por nossa classe. O meio que esta se desenvolve refletirá no final almejado, por isso é importante manter os meios e o fim almejado. Não adotamos qualquer meio para chegar a meta final, porque isso é um beco sem saída. Queremos liberdade já e aumentá-la infinitamente. Com escravidão não se chega a liberdade!

II-Apoio Mútuo

Cada pessoa tem necessidades que nem sempre são atendidas por sua própria capacidade, por isso é importante a ajuda e apoio das outras para realização e satisfação de suas necessidades.

Geralmente isso leva as pessoas a se unirem, a se associarem para satisfazer suas necessidades. A união de  pessoas diferentes somam forças e aumentam as possibilidades de ação, de uma apoiar a outra, fortalecendo a relação. O apoio mútuo não é a formação de uma hierarquia e abusos entre as participantes, porque todas estão em pé de igualdade, cooperadas.

Nos modelos autoritários, a cooperação não é ampla, mantendo a hierarquia e centralismo de ação, a manutenção da desigualdade e apego ao individualismo egoísta, que isola cada uma e cria competição entre todas.

O princípio de apoio mútuo luta contra as condições desfavoráveis de classe ( e mesmo de espécies) e devem ser levadas sem restrição em favor da ajuda mútua para alcançar experiências intelectuais e hábitos sociais na concepção moral e ética libertária.

III- Solidariedade Revolucionária

Se pretendemos a emancipação geral, temos em conta que há um inimigo comum para resistir. É necessário estabelecer múltiplas atividades humanas, constituídas de forma coordenada e solidária.

Com essas ações, se desenvolve a luta, reforçando o processo emancipatório da proposta revolucionária.

Isso se dá pelo compromisso com a luta libertária, com os princípios anarquistas e a convicção de liberdade para todas, sem exceção. Essa solidariedade deve crescer acima do processo do capital, trazendo uma reeducação para a vida coletiva entre iguais.

Não se pode conformar com a situação e sempre buscar a melhoria de todas. A solidariedade é o auxílio econômico, político, moral e humano. Em muitos períodos da história, a solidariedade “revolucionária” das classes exploradas tem-se feito presente na conquista de seus direitos, na melhoria de suas condições de vida contra a exploração patronal, do estado e toda espécie de exploração. Como na Greve Geral de 1917, quando as organizações se solidarizaram para conquistar seus direitos. Como nos quilombos, onde negras, índias e caboclas se solidarizaram na luta por liberdade. Atualmente, as resistências contra as desocupações violentas e arbitrárias da PM/Estado, unem vizinhos na luta por sua moradia.

No decorrer da história, a união solidária da classe explorada a torna mais firme e ciente de sua luta e na busca de sua emancipação.

IV-Ação Direta

Pessoas oprimidas em ação. O esforço direto, que cada pessoa exerce de forma direta contra e sobre as forças que o domina sem intervenção de “atravessadores de qualquer espécie” (políticos, parlamentares, líderes, chefias …), a pressão necessária para obter o que lhe é devido.

Significa a reação constante dos oprimidos contra a ordem atual criando próprios meios de ação. Rebela-se contra a sociedade de cidadãos, até seu produtor. Envolve então a personalidade humana e sua iniciativa, opondo-se à força conservadora da democracia representativa e ao caráter passivo e imobilizador da democracia burguesa.

Deve também conquistar o acordo com outras pessoas e grupos de ação direta na sua conjuntura. Porém ela será intensa ou será reduzida segundo os acordos, recursos e a necessidade real de cada região.

A ação direta deve manter-se em constante oposição frente ao opressor, incorporando métodos revolucionários e de negação ao colaboracionismo pelego, a harmonia social do capital. A colaboração com os reformistas significa enfraquecer a luta popular de emancipação. A ação intrinsecamente relacionada aos fins e que os procedimentos finalistas podem podem prejudicar o conjunto de novas ações em médio e a longo prazo. Portanto deve haver o bom senso nas ações que comprometam a luta libertário e a união do MLB.

Trata-se de um passo importante para formação de uma dignidade coletiva, à medida que o povo tem o direito de exercer o seu desenvolvimento. Serve-se para solução de conflitos e a sua eficiência está intimamente relacionada à justiça social. Nem sempre a ação direta será pacífica ou violenta, mas conforme a circunstâncias conjunturais. Podem ser ofensivas ou defensivas, visando o triunfo das reivindicações populares e devem contar sempre com aprovação da população pela conduta, propaganda pela ação. Deve atuar como um processo educacional visando democracia direta. É um princípio tático que desenvolve a prática de liberdade e de iniciativa.

V-Pluralidade de ação

O anarquismo é um pensamento completo e dinâmico, de múltiplos usos para ações diversas, mas nunca se deve perder o entendimento que é um conceito singular de aplicação plural e que não se pode oprimir e nem explorar em nome da anarquia. Os métodos libertários são métodos que não toleram o totalitarismo ou parcerias com propostas inimigas como partidos, vanguardas, golpistas, igrejas e qualquer setor reformista que queira manter o Estado ou  uma organização centralista e autoritária. Que se faça anarquia em várias áreas, de várias maneiras, mas sem se submeter a lógica conservadora, sem fazer aliança, frente ou parceria com nossos inimigos. Inimigo se combate, não se alia!

VI-Antiautoritarismo

Abolir a autoridade como forma de domínio e não autoridade como competência diferenciada dentro de uma sociedade em que esta diversidade exista. Autoridade e hierarquia são modelos estruturais de gestão e controle que criam e recriam as desigualdades sociais.

VII-Classismo Combativo

É nossa classe em luta, Não queremos que mais gerações sofrem e padecem sobre o jugo da exploração desenfreada.

Para que estas atrocidades cessem, nos organizamos visando nossa emancipação e uma vida de produção, distribuição de forma direta e autogestionária.

A luta de classes existe e seus confrontos se dão diariamente nas relações desiguais da sociedade. Não podemos alimentar o sistema e suas instituições.

O processo de emancipação é eliminar as classes sociais de tal maneira que não assuma mais nenhuma ao poder, logo é necessário suprimir a estrutura de dominação classista e os conflitos gerados a partir dela mesma.

O modelo adotado pelas vanguardas e partidos longe de ser revolucionário, estagna a revolução e estabiliza o modelo estatal (seja comunista, seja capitalista) corrigindo seus abusos. Os sindicatos, importantes espaços de ruptura e reorganização econômica, se tornam órgãos legais que amordaçam os trabalhadores e o fazem trabalhar sem lutar de forma direta por sua emancipação. Alimentam o sistema em vez de destruí-lo. O sindicalismo revolucionário rompe isso, no caso, trazendo a luta emancipatória de forma direta e libertária.

Devemos reunir a nossa classe e manter a luta emancipatória até não mais existir classes sociais e suas desigualdades.

VIII-Autogestão

É o modelo de gerenciamento em que os envolvidos são ao mesmo tempo gestores e participantes das atividades previamente desenvolvidas e acordadas em comum. De tal forma que promove a liberdade individual com o compromisso coletivo e não retira do trabalhador seus instrumentos de trabalho e nenhum resultado de sua produção.

IX-Democracia Direta

A palavra final sobre as leis e regras é do povo, das pessoas em ação em que permitirá a união comunitária em favor do autogoverno. Se há o papel executivo, está restrito a delegação provisória, quando necessário e que agirá sob o controle assembléario. A administração dos assuntos econômicos e sociais é inevitavelmente obra dos grupos locais e funcionais necessários para uma vida descentralizada, autônoma, sem burocracia, simplificando o processo de ação. É importante que todos participem, e se há delegação, que seja provisória e rotativa, para que todas participem da gestão, se educando no modelo assembleário.

A democracia direta faz parte da estrutura federalista, que como um poder popular tonará mais rápido o fim das  classes sociais. A democracia se faz com o povo de forma direta, sem intermediários. 

Assim, as eleições são uma afronta a emancipação de nossa classe e deve ser denunciada como tal, uma instituição que mantém a estrutura de opressão e exploração.

X-Poder Popular

O povo organizado gera poder de decidir e fazer o que lhe convém, recuperando o que foi roubado pelas instituições estatais e pelos capitalistas. É desenvolvido de forma assembleária onde cada pessoa vale seu semelhante, sem mais nem menos, iguais.

XI-Federalismo

O modelo organizacional-político adotado pelo anarquismo.

O federalismo respeita as características de cada região, organização e indivíduo. Sempre mantendo a autonomia das associadas, desenvolve união de ações, trazendo um corpo coeso de ação e luta para todas. Interage e integra as diversas associações, trocando experiências e desenvolvendo a solidariedade revolucionária. Tenha em mente que são as estruturas simples, das bases da federação as fundamentais para o desenvolvimento do anarquismo, apoiado na democracia direta e no poder popular, gera uma força de luta ao modelo dominante que não pretende substituí-lo e sim aboli-lo.

XII-Internacionalismo

A luta não será só local, mas em todos os locais no mundo, porque a exploração e opressão não se resume a um país, mas em todos e só com a união em uma proposta de emancipação sem meios termos é que se realizará.

Pela emancipação de todas, sem descanso até a última pessoa explorada e oprimida.

Princípios orientadores do anarquismo
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