Ao se associar a uma estrutura anarcosindical, deve-se perguntar como ela funciona?
É claro que a nossa organização é toda feita sobre os princípios anarquistas, então ela funciona assim:
-Autogestão
As ações e decisões são feitas pela participação de todas, o que é um processo de reeducação social, já que muda o contexto mandar/obedecer autoritários e totalitários.
Autogestão une pessoas iguais em direitos e responsabilidades, compromissados em não explorar e nem serem exploradas, nem oprimir e nem serem oprimidas o que leva a …
-Horizontalidade
A horizontalidade é abolição das diferenças sociais, econômicas e políticas. Nenhuma pessoa companheira é mais que as outras e a organização sindical revolucionária reflete isso em sua prática. Os cargos “administrativos” são revogáveis a qualquer momento e geralmente assumido em caráter de troca, o que garante que cada militante possa participar e obter experiência de gestão.
O principal espaço da organização é …
-Assembleia
É o espaço onde todas pessoas associadas podem e devem explanar suas ideias, propostas, manifestos, discussões e entendimentos.
É um espaço importantíssimo de nossa organização, um espaço de educação social, onde aprendemos e exercemos as práticas anarquistas e libertárias; uma vivência para o convívio coletivo igualitário, já que nossa proposta é essa.
Cada organização sindical (núcleo, seção, sindicato) deve praticar o máximo possível o conceito de assembleia como espaço educacional gerenciador da vida comunista que propomos.
Quando mais essa prática se torna coletiva, menos espaço para pessoas aproveitadoras dos partidos e dos patrões terão com suas táticas e estratégias de dividir, corromper, aliciar, manobrar e sabotar as assembleias livres anarquistas.
A experiência mostra que o que para nós é um importante espaço de vivência, de deliberações coletivas para ação direta, é para os partidos e políticos profissionais um espaço de controle e legitimação de suas práticas burocráticas. As assembleias são fachadas feitas para aprovarem aquilo que foi preestabelecido em reuniões geralmente fechadas da “direção” do órgão reformista (partidos, grupos dominantes, exploradores, opressores, autoritários, vanguardistas e demais estruturas impositivas de controle).
Nossa gente oprimida e explorada que podemos dizer também como nossa classe fica refém, as vezes se rebela, mas sem efeito, já que a estrutura sindical oficial foi desenvolvida para esse modelo burocrático. Necessitamos de uma forma organizacional que expresse nossa proposta de ruptura e ao mesmo tempo gestione os meios de produção que sempre foram de nossa gente trabalhadora. A forma organizacional que mais atende essa necessidade é…
-Federalismo
É um conceito onde se une organizações em todo de uma estrutura, desenvolvendo ações conjuntas para o avanço da luta de emancipação. Embora uma as organizações, a proposta de federalismo anarquista é libertária porque mantém a liberdade de cada organização associada, suas características peculiares e a união federativa não impedirá nunca a autonomia de ação, mas pelo contrário, motiva e apoia seu aprofundamento, através da solidariedade federativa, uma ajudando a outra.
Para exemplificar, no sindicalismo revolucionário teremos, de forma sugestiva, ao menos duas perspectivas de federações, uma federação local e uma estadual/regional, se assim entenderem no processo organizativo.
A federação local é entendida no espaço de uma cidade ou município, que agrega várias seções e núcleos sindicais revolucionários (Sindicatos de vários ramos de profissão: construção civil, saúde, alimentação, vestuário, etc e Sindicato de ofícios vários -Sindivários (acrônimo usado em vários momentos da história): vários profissionais que não formem uma seção própria ou um sindicato próprio, que não tenham ainda uma estrutura própria de ramo de profissão. Podemos pensá-lo como um coringa no processo de organização.
A união dessas seções e núcleos formam a Federação local (por exemplo: Federação de Pessoas Trabalhadoras da cidade de Osasco, de Marília, de Ribeirão Preto, de Pindamonhangaba, de Santos, etc.
Tendo em conta isso, é fácil imaginar que uma Federação Regional/Estadual seja a união dessas federações locais. Pode-se pensar em variações, como por exemplo, na união de um determinado ramo de profissão como metalúrgicos ou bancários. Na maioria das cidades/municípios é fácil encontrar pessoas trabalhadoras dessas profissões, então é possível que se unam em representações locais do ramo de profissão e se unir para formar uma federação do ramo de profissão, respeitando que essa organização estará ligada a Federação estadual/regional pelo simples motivo que a organização sindical revolucionária procura articular as ações, propostas em conjunto para o desenvolvimento da emancipação de nossa classe, no qual o sindicalismo revolucionário não é uma teoria, mas uma prática de apoio ao anarquismo.
Caso cada ramo de profissão seja isolada, teremos o que existe atualmente no modelo fascista, estruturas corporativas que defendem interesses próprios, mantendo o sistema opressor e explorador funcionando.
É fácil perceber a importância do protagonismo, de um pró ativismo, ou seja …
-Ação Direta
Uma das mais importantes práticas anarquistas é a ação direta, ou seja, as pessoas assumem ativamente as tarefas que são necessárias para o processo de emancipação. Uma vez entendido de forma coletiva que determinada ação é necessária, é tomada a iniciativa direta em fazê-la, contrário de delegá-la ou mandar outras pessoas fazerem, porque não é assim que a “banda” toca na anarquia.
A nossa emancipação é nossa obra e de mais ninguém, ontem, hoje e no futuro!
Lembremos que para muitas quando se fala de sindicalismo, vêm a cabeça o modelo atual que é autoritário, é imposto, partidário, fascista e corporativo, totalmente submisso ao Estado e as organizações patronais e possuem as regras da Organização Internacional do Trabalho (órgão submisso a ONU) como referência.
É preciso esquecer e abandonar esse sindicalismo para entender o sindicalismo revolucionário e depois lutar para que o sindicalismo revolucionário ocupe o espaço de luta emancipatória, coisa que as organizações sindicais reformistas, atreladas ao Estado (seja pela esquerda ou pela direita), não farão.
Esse artigo foi baseado nos livros:
ABC do Sindicalismo Revolucionário – Edgar Rodrigues
Socialismo e Sindicalismo no Brasil – Edgar Rodrigues
Organismo Econômico da Revolução – Diego Abad de Santillán