Vertente que é contra todo governo central atua como alternativa de luta de emancipação

Afastado do cenário político e ideológico brasileiro há décadas, o anarquismo, corrente de pensamento que defende a ausência de governo central e a autogestão da produção econômica pelas pessoas trabalhadoras, se mantém ativa no país em movimentos sociais tradicionalmente negligenciados pela esquerda partidária e institucional. 

Inspiradas por experiências internacionais, entidades de orientação anarquista vislumbram reativar a força política que um dia tiveram no Brasil. As poucas centenas de pessoas anarquistas que hoje atuam em algumas entidades mal lembram o peso político que o movimento já teve no país. 

No começo do século XX, impulsionado pela imigração de pessoas trabalhadoras europeias, o anarquismo dominava os círculos das pessoas trabalhadoras. Por anos, esteve à frente das principais greves e mobilizações sindicais. 

A maré começou a mudar com a Revolução Russa de 1917. 

A experiência vitoriosa soviética despertou a atenção das pessoas operárias brasileiras para o papel ilusório que um partido organizado poderia desempenhar na conquista do poder. Com o surgimento do Partido Comunista Brasileiro, em 1922, a anarquia perdeu quadros valiosos para as fileiras comunistas, iludidas pelo autoritarismo bolchevique, que foi atroz em uma guerra civil que matou milhares de anarquistas russos. 

O golpe final ao movimento viria com o Estado Novo de Getúlio Vargas. 

Além da repressão aberta às organizações libertárias (anarquistas), o movimento de cooptação de sindicatos por parte do Ministério do Trabalho getulista limitaria a influência anarquista futura sobre o operariado brasileiro a quase nada. 

Opostas a qualquer espécie de negociação de demandas por vias institucionais, as pessoas anarquistas defendiam a manutenção e formação de sindicatos de ramos de profissão, diferente do modelo sindical fascista de categorias e corporativo imposto por Vargas e acabaram perdendo espaço entre as pessoas trabalhadoras brasileiras, deslumbradas com a possibilidade de, pela primeira vez, assistir a algumas das suas reivindicações se tornarem legislação oficial, sacrificando sua autonomia de luta direta. 

O movimento anarquista sobreviveria de maneira marginal em pequenos grupos de estudos culturais isolados durante as décadas de 1950, 1960 e 1970. 

Como toda organização de oposição que se pretendia revolucionária, seriam perseguidas até a semi-extinção pela ditadura militar de 1964. Mesmo assim mantendo núcleos de resistência e publicações ousadas para o contexto da época. 

Na década de 1980, com a abertura política, a insistente desconfiança em se envolver em algumas novas organizações das pessoas trabalhadoras ainda deixariam o movimento incapaz de exercer qualquer influência política nos meios institucionais. 

As poucas militantes anarquistas organizadas daqueles anos, por exemplo, optaram em acompanhar de longe a criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT). 

O renascimento do movimento no Brasil viria em meados da década de 1990, quando começaram a pipocar em todo o país tentativas de reunir as pessoas anárquicas. As experiências do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), organização autônoma indígena mexicana inspirada no líder revolucionário Emiliano Zapata, e das pessoas piqueteras, desempregadas e moradoras da periferia argentina que saíram às ruas para derrubar diversos presidentes em seguida, como também a ações do MST aqui em nossas terras,  trouxeram a esperança anarquista por aqui também. 

Hoje, as pessoas anarquistas se reagrupam em entidades que enfrentam o desafio de reerguer a filosofia/metodologia/conceito simbolizada pela letra “A” dentro de um círculo, o “A na bola”! ­

Um país do tamanho do Brasil pede novas formas de ação, que respeitem as características descentralizadoras, federativas e autogestionárias que a anarquia convida a praticar. Há uma necessidade de abolir a exploração e opressão, mas não será feita através de mais opressão e exploração, como é os modelos autoritários, impositivos.

Nós todas somos responsáveis por essa emancipação, porque afinal de contas é a vida de todas as pessoas oprimidas e exploradas que estão em jogo.

Na luta somos dignas e livres!

Anarquia viva e presente.